quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Solidão-Morte


«A casmurrice! Ah, a natureza! Os homens estão sozinhos na terra - essa é a desgraça! “Há algum homem vivo nesses campos?” - grita o bogatir* russo. Também grito eu, que não sou bogatir, e ninguém dá sinal de vida. Dizem que o sol anima o universo. O sol vai nascer e - olhem para ele, por acaso não é um cadáver? Tudo está morto, e há cadáveres por toda a parte. Há somente os homens, e em volta deles o silêncio - essa é a terra! "Homens, amai-vos uns aos outros" - quem disse isso? De quem é esse mandamento? O pêndulo bate insensível, repugnante. Duas horas da madrugada. As suas botinhas estão junto da cama, como que esperando por ela... Não, é sério, quando amanhã a levarem embora, o que é que vai ser de mim?»
*Herói épico russo, uma espécie de Hércules popular. (N. do T.)

in “A Dócil”, de Dostoiévski. Duas Narrativas Fantásticas: A dócil e O sonho de um homem ridículo. Tradução, prefácio e notas de Vadim Nikitin. São Paulo: Ed. 34, 2003.



Um pormenor: essas imagens tão-somente revelam a “sociedade em quadrinhos” para qual e em que vivemos.



2 comentários:

Paskyn disse...

Ainda achei maldade cê mandar isso pro Clô.
Eu acho que seremos sempre mortos se não amarmos uns aos outros, como implorou que fizéssemos o crucificado.
Davi, cê tá pelado velho?

Davi Rômulo disse...

Que diabos de pergunta é esta?