segunda-feira, 20 de julho de 2009

Quando as Estrelas começarem a cair, me diz, me diz, pra onde é que a gente vai fugir?



Começou assim:

Minha mãe atende o telefone e depois fala pra mim:

-Thiago, é a D. Luzia. Ela quer que você vá dormir na casa dela hoje pra fazer companhia pro Vitinho.

Eu não penso duas vezes. Sigo pra casa da esquina. Levo o meu Super Nintendo, com os cartuchos do Mario World, Toy Story, Lamborguini e Top Gear debaixo do braço junto com meu travesseiro.

Ver o moleque que eu idolatrava numa situação fragilizada não diminuia o tamanho dele na minha vida. Era um privilégio. O meu herói precisava do meu apoio. E eu ia estar lá. Para o que ele precisasse.

Isso aconteceu quando eu não devia ter mais de 11 anos. Eu ainda era o Tatu-Bolinha de um post anterior.

Os anos foram passando, a gente cresceu, o mundo mudou. Tudo mudou.

Num dia eu me equiparei ao meu herói. No outro nós discutimos por causa de uma namoradinha. Depois a gente se separou e depois eu elegi outro herói no colégio, o Léo. E agora na fase adulta, se é que eu posso chamar assim, elegi o Fidel pra essa função simbólica. Os últimos totalmente diferentes do herói que jogou bola comigo aos dez anos.

Esse meu primeiro herói, que precisou da minha presença no quarto quando perdeu o irmão mais velho, se desvencilhou não só de mim mas também da própria vida. Ele se envolveu com drogas. Ele se envolveu com bandidos. Ele foi preso. Duas vezes.

Eu me orgulhei do dia que a gente se reconciliou. Pedi desculpas. Disse que perder a amizade dele nunca foi o que eu quis. Quando ele saiu da cadeia pela segunda vez, eu, contente, dei dois tapinhas de leve no rosto dele.

A gente se reconciliou mas não voltou a ser amigo. A gente se falava na rua. Era um "E aê, Vitão", que era respondido com um "Fala, Thiagão". E só.

Agora são 23:56 do dia 20 de julho de 2009. O Vitão já não é mais. O corpo dele ainda deve estar ali na rua que atravessa a minha sendo apreciado pela polícia, curiosos, parentes e amigos. Não soube muito, mas ao que parece, alguns menores sairam de um pálio prata e dispararam contra ele no rosto. Quando ele caiu, eles continuaram. Disseram que ele ficou desfigurado.

Justo o Vitinho.
O mais bonitinho da turma. Que todo mundo amava.
Todo mundo amava ele.


domingo, 12 de julho de 2009

Herói

Um Cachorro Bravo escreve:

Devia já cursar o ensino médio quando li um livro chamado Baleiro, Balas do escritor Antônio Marchetti. A temática do livro era sobre um rapaz que sofria abusos físicos pela madrasta e pelo pai e fugia para uma cidade que tinha trejeitos de ser Salvador-BA. Lá ele se tornava vendedor de balas num cinema pulguento e, a duras penas, galgava degraus até um patamar mínimo de dignidade. Em certo trecho do livro, o protagonista reflete sobre um comentário de outro personagem sobre a natureza da virtude. Este personagem, um dono de cantina, declamava sua filosofia de marmita sobre um outro baleiro de boa reputação:

-O que é bom já vem feito!

Essa premissa chocava-se com toda a idéia que o rapaz tinha da educação como sendo algo construído e moldado ao longo da vida. Para ele não só o caráter acadêmico, mas também a constituição moral eram trabalhados ao longo dos anos e, caso contrário, corria-se o risco de tornar-se o homem um animal degenerado pela sociedade e pelos vícios que ela oferta.

Meu ponto de vista sempre coincidiu com o desse personagem. As pessoas não são más simplesmente por nascerem más ou são boas por nascerem boas. As pessoas aprendem a ser boas ou más. Aprendem a ser egoístas ou altruístas. Corajosas ou covardes.

Contudo, uma semana atrás um episódio me fez refletir sobre esses conceitos e em como eles podem ser flexíveis.

Um garoto que mora na rua de cima à minha casa estava sendo surrado por três homens corpulentos que o acusavam de ter roubado um celular da namorada de um deles.

A discrepância entre a estatura física dos envolvidos era enorme, mas os homens não tinham piedade. Quando o menino estava quase inerte, um outro rapaz que não deve pesar mais de 60 quilos se pôs entre os homens e o garoto. Arriscou a pele, literalmente, por outra pessoa a qual ele nem mesmo tinha segurança quanto à inocência.

Mais uma história dessas de coragem que a gente escuta pelas esquinas. O diferencial pra mim era que eu nunca tinha reparado naquele moleque magrinho. Conheço ele desde o início da adolescência. O pai é um alcoólatra que, até onde eu sei, já foi acusado de abusar sexualmente de uma criança deficiente. Também soube que havia iniciado sexualmente um garoto que mora no fim da rua e este garoto veio, posteriormente, a se assumir homossexual. A mãe do herói sempre se mostrou alguém distante. Raramente eu a vi sair de casa e sempre aparentava uma tristeza profunda.

Independente disso ele sempre foi boa praça. Não gostava de beber. Não andava com o pessoal barra pesada. Sempre foi bem quisto pela vizinhança e pela molecada.

O Skinner vai me dizer que eu não tive acesso a todas as contingências. Que ele tem reforçadores que estimulam o comportamento altruísta e por aí vai.

Eu sei, eu sei. Mas isso não diminui nem um pouco a minha admiração. Talvez eu tivesse muito mais condições de ter aprendido a ser alguém mais altruísta e, mesmo assim, acho que eu nunca fiz nada que se equiparasse ao ato do Emerson.

Acho que é por que nem todo mundo nasceu pra ser herói.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Video Caseiro

Um Cachorro Bravo escreve:

Marcão:

-Ow!!! Eu peguei uns vídeos emprestados com o Caju e entre eles tinha um pornô do Irmão Urso!

Eu:

-Um filme pornô do Irmão Urso? Como assim? Ele andou filmando as saliências dele?

Marcão:

-Seu pervertido. Cê não entendeu. É um DVD que era do Irmão Urso. O DVD. Não era ele que tava no filme não, seu louco.

Eu:

-Ah bom! Imaginei que a mulher dele tinha gravado as brincadeiras só pra ficar censurando depois. Tipo "Eu esperava um longa-metragem e você me vem com esse curta?"

sábado, 4 de julho de 2009

Episódio Piloto- De novo

Um cachorro bravo escreve:

Como prometido, ressuscitamos.

Nem bem ao terceiro dia. Nem no quarto. Nem no sétimo.

A verdade é que foram meses difíceis esses primeiros de 2009. Época de profundas mudanças e também época de retomada de consciência. Mas pelo menos estamos aqui. Vivos. Que dizer. Nem todo mundo.


A gente se vê no Dia do Juizo, MJ, Clô, Fawcett e Vovó.


Também não dá pra ser egoísta ao ponto de dizer que o ano tá sendo cabuloso só pra gente. O Brasil todo passou por maus bocados. O mundo todo tá passando uns perrengues.


Uma turma de especuladores deu origem à maior crise financeira mundial desde o Crash de 1929. De uns porquinhos mexicanos veio a maior causa de histeria sanitária desde as galinhas gripadas da China e das vaquinhas pancada da Inglaterra.

Agora tem o Ronaldo no Corinthians. Tem o Kaká no Real Madri. Tem um negão na Casa Branca. E o negão acha que o Lula é o cara.

Lula continua sendo um caso à parte. No Brasil ninguém dá muita trela pro Sapo Barbudo. Ele parece o menino mais novo que é o café-com-leite na brincadeira de pique-esconde. Ele fala uma asneira do tipo "um país que consegue tirar petróleo a seis mil metros de profundidade também pode tirar um avião do fundo do mar". O William Boner dá uma risadinha sarcástica e passa a mensagem, nas entrelinhas, de que "a gente só tá tolerando esse jumento por que é conveniente".


O Lula aceita esse tipo de coisa em nome de uma indecência chamada governabilidade. Quer dizer que ele se entrega como uma puta em troca de apoio político. Em troca de um elogio da Miriam Leitão. Em troca de um tapinha nas costas por alguém do PSDB. Não a toa ele saiu em defesa da múmia do coronel Sarney. Conseguiu dizer que ele não pode ser julgado como um homem comum. Nesse ponto eu até concordaria, se o que ele quisesse dizer é que o homem comum tende a ser honesto, o que não é o caso do sanguessuga dono da Capitania Hereditária do Maranhão.


Enquanto O Cara se anula, o Gilzinho bota pra quebrar. Gilzinho não se contentou só com a deplorável cena da dupla soltura do almofadinha banqueiro. Gilzinho também se ocupou em destruir a carreira do delegado que deflagrou a Satiagraha. Gilzinho detonou o diploma de jornalismo, abrindo caminho para que imbecis como eu possam ser convidados a escrever no lugar de alguém especializado e, por fim, Gilzinho teve a cara de pau de discutir com a figura que mais impõe respeito dentro do STF, o ex-faxineiro Joaquim Barbosa o, segundo a Veja (aposto que o Civita se arrependeu dessa), Paladino da Justiça no Brasil.


Enfim. Aconteceu coisa pra caráleo nesses meses. Aqui no Confraria eu fui obrigado a engolir a demissão do Paulinho. Engoli forçado, como eu engulo os chás de gengibre com alho que a minha mãe faz quando eu tô gripado. Mas enfim. Amor só é amor quando se tem liberdade. Então voa passarinho, voa!


Não pra compensar a falta do Fidel, mas pra somar um talento ao nosso Rotary particular, eu admiti o Marcinho aqui. Não escreveu uma linha até hoje, mas me faz muito bem olhar o blogroll e ver o nick do Prestativo. Ele tem estado muito presente na minha vida, então ele tinha que vir pra cá também.


No mais é isso povo. Último ano da maior parte dos candidatos a psicólogo da Confraria. Último ano do Lula e do Gilzinho. Último ano do MJ, do Clô, da Fawcett e da Vovó.