sábado, 22 de dezembro de 2007

C'est Fini

Um resumo da Maratona


Terça-Feira (18/12/2007). Confraternização do Pro-Social.



Quarta-Feira (19/12/2007). Festa do TRF.


Quinta-Feira (20/12/2007). Confrades e a Drunkenpsychologie!
(Que infelizmente (tá certo Fidel?) não foi tão Drunken assim...)




Sexta-Feira. (21/12/2007). Five o' Clock Tea.

Pode parecer mas eu não transformei o Confraria num Fotolog. Meu estomago e rins estão inteiros, apesar de todo o álcool que tiveram que processar. Hoje ainda têm um bota fora pra mim que estou de partida para o exílio. Depois eu atualizo e ponho uma foto da última prova. Daqui a uns quinze dias.

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Agora sim, o post.
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UMA PARÁBOLA: Meu lugar se chama Limbo.

Eu vivo num mundo singular.
Singular não por que seja tão incomum. Singular por que suas fronteiras não são bem definidas. A geografia do meu mundo permite aproximar cidades separadas (no mundo oficial) por milhares de quilômetros, sendo possível percorrer a distancia entre elas em poucos minutos. Então, permitam-me dizer minha exata (e eu estou sendo generoso usando a palavra "exata") localização nesse mundo: Eu vivo em algum lugar entre Cabul e Paris.
Eu nasci numa cidade que chamarei de Buenos Aires, por que ela não é Cabul e também não chega a ser Paris. Vivi durante algum tempo em minha cidade natal, mas não o suficiente para considerá-la minha. Depois de algumas mudanças e imigrações cheguei a Cabul. Foi lá que cresci e aprendi a sobreviver. Isso é a primeira coisa que se deve aprender quando se chega a Cabul. Nada de pontos turísticos, restaurantes ou pousadas. Cabul é interessante por isso. O que lhe falta em cultura e diversão lhe sobra em relações humanas de sobrevivência.
Não se assustem, mas venhamos e convenhamos: O que é o homem? Para os donos da razão, que ditam a consciência comum, o homem nada mais é que um primata com sorte que aprendeu a usar o polegar opositor. Se isso é verdade, então Cabul é uma espécie de centro evolutivo, pela sua capacidade de estabelecer sistemas de seleção natural.
Na minha adolescência eu me sentia assim. Um exemplar do topo da cadeia evolutiva de Cabul. Isso por que eu tinha aprendido a estabelecer importantes vínculos com outros sobreviventes que beiravam a simbiose e com uma vantagem: eu tinha vislumbres de Paris.
Sim, Paris.
Lá está a civilização. Lá estão os bons costumes. Lá está o belo.
Lá, no esplendido e asséptico Domo de Vidro.
Minha família sempre teve contato com os parisienses. Embora nunca tenham se tornado autênticos franco-cidadãos, meus pais sofreram alguma influência de seus valores. Brinco que quando me olharam pela primeira vez, já deviam ter me imaginado fazendo biquinho pra falar.
Por isso resolveram me educar para ser o que eles imaginaram ser um francês. Não sem muito sacrifício o fizeram. E eu não fui um aluno muito disciplinado. Entendi que eram importantes as metas que eles desenharam para o meu futuro. Mas eu tive que aprender a conciliar o sonho de meus pais com a realidade em que eu estava situado. Eu não podia esquecer que estava em Cabul.
Passados os anos de minha primeira juventude eu me encontro agora no processo de transição. No instante atual, não estou nem lá nem cá. Estou entre civilizados e bárbaros. Hoje tenho amigos de Cabul e amigos de Paris.
Os amigos de Cabul são humildes (não todos), afáveis (não todos), sinceros (não todos) e expansivos (todos). Alguns são como se fossem da minha família e alguns agem como se fossem. Lembro que, quando eu passava mais tempo em Cabul, não era incomum acordar aos domingos com pelo menos três deles já na minha casa. Uma cena assim ficou na minha memória. Lembro de acordar xingando por que um deles pulou na minha cama me dando uma cotovelada (amistosa, mas ainda assim uma cotovelada), outro ligando a televisão pra ver a Fórmula1 enquanto um outro procurava alguma coisa na dispensa pra comer. E quando minha mãe chegou, foram os três cumprimentá-la e ajudá-la a levar as compras pra cozinha. Eu lembro disso rindo e com uma sensação de nostalgia por que hoje só tenho contato com um desses amigos e, mesmo assim, são raras às vezes em que o vejo.
Os amigos de Cabul, em geral, possuem senso de valor muito forte. São fiéis e, não raro, religiosíssimos. A fé realmente possui uma importância muito grande nesse lugar. Mesmo os marginais fazem o sinal da cruz pedindo proteção antes de cometerem seus delitos.
O que acontece é que hoje parece que venho me alimentando de lembranças quando me refiro à essas pessoas. Os de Cabul tem se afastado e na maior parte das vezes só nos reunimos em festas de casamentos, como se a cada encontro finalizássemos uma amizade e selássemos em nossos relacionamentos a alcunha de apenas conhecidos.
Eu sinto essa mudança quando percebo que uma conversa que antes não tinha virgulas hoje torna-se um silencio constrangedor.
No entanto, outro horizonte me acerca.
Num movimento contrário ao que acontece a muitos dos amigos de Cabul, certos conhecidos de Paris têm se tornado amigos de Paris.

É verdade. Falta a descrição dos de Paris.

Em Paris as pessoas transpiram cultura e inteligência. Ainda que em verdade muitas delas não possuam nem uma nem outra. O importante para elas é a aparência. Aparência física e social. Elas geralmente não possuem um padrão de conduta bem definido. Soa contraditório, mas se há um padrão então o padrão é ser diferente.
A artificialidade é o tom de Paris. Às vezes até a comida tem gosto de isopor. Parece que quando falo assim, estou sendo cruel e generalista. Mas peço que não me entendam mal. É claro que há em Paris aqueles que são autênticos. E são desses que tenho me aproximado. E são esses que tenho chamado de amigos de Paris. Estes me aceitaram desde o primeiro momento em que me viram. Preferiram não saber de onde eu era e nem saber se eu era vacinado (talvez eles ainda prefiram não saber nem conhecer o lugar de onde eu vim. Penso que alguns deles não têm anticorpos o suficiente para sobreviverem a uma visita a Cabul).
Enfim. A situação é esta. No momento me sinto como o Tom Hanks em O Terminal (a não ser pelo fato de que não tenho uma Catherine Zeta-Jones me dando mole). Mas no meio de toda essa confusão, as palavras ditas por um amigo (que não é nem de Cabul nem de Paris), num momento meu de crise me dão uma orientação:
-“Garoto, não importa o rumo que você tome. Você só precisa lembrar de que parte do caminho pra onde você está indo é saber de onde você vem”.

Hammurabi.

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Momento Merchandising:

Entrou na roubada do amigo secreto e não sabe o que vai dar (ui!) de presente? Visite o Portal da ConfrariaCorp & Business e tenha a certeza de que nunca mais te chamarão pra outro sorteio da brincadeira de fim de ano.

4 comentários:

Anônimo disse...

nessa sua frase ai é importante lembrar

Anônimo disse...

nessa sua frase ai é importante lembrar que quando se está bêbado é dificil se concentrar em onde vc tá indo.

Paskyn disse...

Pois é. O mais engraçado é que um simples acento muda completamente o sentido da frase do Dr. Jaime:

"Parte do caminho pra onde você está indo é saber de onde você vem".

Já foram feitas as devidas correções.

Davi Rômulo disse...

Saber quem se é, é saber de teu lugar? Viver à margem parece ser privilégio de poucos, daqueles que podem sentir tão alto e descer ao mais fundo dos fundos. Eu tento viver à borda. Todavia, as pessoas, a cada instante, me mostram que é sobremaneira difícil. Eu luto para deixar claro o quanto nós somos “diferentes”, contudo, os outros acabam por ferir-me profundamente e “igualam-se”. Não sei se é por que sou um derrotado, ou se isso é puro sentimentalismo; mas o que tenho vivenciado não é nada bom. Aqui, ali, acolá, lá, aí encontro o “mesmo” ser humano mentiroso, feliz, guerreiro, derrotado, verdadeiro, triste, criminoso, abatido, amigo, inimigo, infiel, irônico, e por aí afora. Tu tens razão em dizer que teu lugar chama-se limbo, pois, só tu para dizer porquê veredas percorres há décadas. Não posso desdizer-te, meu amigo. Porém, ouça minhas ingênuas palavras: sê tu mesmo, até quando alienar-se de ti por uns momentos. Isso não é um conselho, é uma confissão. Perder-se é o mesmo que a morte; e ultimamente sinto-me morto.