segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Resiliência

E depois da primeira batalha no mundo inconsciente, a gente nasce e é lançado no mar da existência.
Uma onda.
E a gente engatinha. A gente tenta levantar. A gente cái de bunda. A gente cái de frente. A gente sangra o nariz. A gente fica em pé.
Olha a onda.
E aprende que tem que comer verdura. Aprende que não pode brigar com o coleguinha. Aprende que tem que chamar a mulher da escola de tia.
Pula a onda.
E a gente apanha do pai. A gente apanha da mãe. A gente apanha da tia. A gente apanha do menino mais velho.
Cuidado com a onda.
E a gente toma coragem de falar com a menina bonita. A gente toma fora da menina bonita. A gente vê a menina bonita com o menino mais velho. E a gente se tranca no banheiro pra ter prazer com alucinações de mulheres bonitas.
Mergulha. Lá vem a onda.
E a gente aprende o que é o dinheiro. A gente aprende que quem não tem dinheiro não é ninguém. A gente aprende a trabalhar pra ser alguém. Vem o menino mais velho e toma o dinheiro da gente. E a gente se sente ninguém.
Respira. Vem a onda.
E a vida ensina que você é imoral. A gente vê que é realmente imoral. A gente sente culpa por ser imoral. E a gente pede que a vida não deixe que ninguém saiba que a gente é imoral.
Cospe o sal. Outra onda.
E a gente descobre que todos são imorais. Que o menino mais velho é imoral. Que a tia é imoral. Que a mãe é imoral e que o pai é imoral.
Abaixa a cabeça. É uma onda.
E a gente se sente só. E a gente procura quem se sente só. E a gente quer juntar as solidões.
Fique firme. É só mais uma onda.
E a gente perde os sentidos. E o mundo perde o sentido. A gente não se prepara.
Onda.

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