segunda-feira, 17 de março de 2008

João Vítor, a Universidade, a Superdotação e o Fim do Mundo

Esse aí sou eu com 10 anos no jornaleco da escola. Cabelão grande que em um ano eu viria a raspar por influência do Kakute. E minha mãe, ensandecida com a visão da minha cabeça brilhando, viria a espancar o coitado do meu primo. Quando esse jornalzinho saiu, um dos meus colegas pegou uma dúzia de exemplares e espalhou pela rua. Fiquei semanas sem por a cara pra fora.


Boas recordações.

Nessa época eu parecia predestinado a ser uma aberração. Eu havia aprendido a ler ainda na pré-escola com as aulas particulares do Pe. Antônio e fazia redações surpreendentes para um moleque na quarta série. Foi por causa de uma dessas redações que minha cara foi parar aí. Eu lembro que a Professora Marisa mandou a gente escrever alguma coisa sobre DST. Ela leu meu texto e me fez um elogio. Depois ela releu o texto em voz alta pra turma toda e eu comecei a ficar sem graça. Depois ela fez um painel de mais de um metro com o meu texto e pendurou no fundo da sala. Depois ela chamou meus pais pra irem na sala conferir o painel. Depois eu só lembro da máquina fotográfica.
O fanatismo da minha mãe por notas azuis no boletim era uma coisa assustadora. Acabei criando um monstro reforçando a neurose dela. Eu lembro que foi um verdadeiro suplício tentar viver uma infância normal, jogando bola na lama, comendo terra e aqueles matinhos azedos, soltando pipa e brincando de porradinha no recreio tendo a marcação cerrada da D. Maria José. O juízo final foi mesmo o dia em que eu decidi sair do Colégio Adventista e voltar pra escola pública.
Enfim, eu penso que tudo foi saudável no fim das contas.
Junto com as risadas, foram essas as lembranças que me vieram à cabeça quando tomei ciência das notícias do menino de Goiânia. Foi uma série de fatores que fizeram da história de João Vitor uma polêmica nacional.


Sábio André Dahmer


Mercantilização do Ensino Superior pode ser uma das explicações para a aprovação do goianinho de oito anos. Foi a primeira pedra cantada pelo MEC.
Eu não vou aqui levantar o preconceito imbecil em relação aos diplomas provindos de universidades privadas por dois motivos: primeiro por que estudo em uma faculdade particular a qual considero muito boa. Segundo por saber que a deteriorização das universidades públicas está abrindo espaço para que as entidades privadas de ensino mais comprometidas assumam um papel que antes era praticamente exclusivo das primeiras. Entretanto, não dá pra negar que muitas faculdades têm se transformado em verdadeiros mercadinhos imorais de diplomas, como sugeriu o Malvadinho. Essas faculdades pipocam pelas cidades. Basta olhar a traseira dos ônibus e co
nferir a diversidade. O preço, que deveria ser um aspecto secundário, aparece em primeiro plano em promoções que lembram muito o açougue do seu Bento que fica no fim do quarteirão. O fraco exame de seleção torna-se um mero formalismo para desculpar a transação financeira.
Tenho que dizer que sou contra o vestibular e que ainda sonho com o dia em que o Brasil vai adotar o modelo americano e europeu, onde o aluno vai para a faculdade mediante o desempenho demonstrado na High School. Morri de inveja do holandês que conheci quando o gringo me disse que era assim na terra dele. O problema é que pra isso a educação básica daqui ainda vai ter que evoluir muito.



O pequeno gênio do Goiás.

E tá, vamos considerar o mérito do moleque aí. Pode ser que ele seja mesmo superdotado. Se não for, pelo menos ele é bem esforçado. Mas ainda assim é uma criança. Uma criança inteligente, mas ainda assim uma criança. Estúpidos mesmo são os pais dele. Queriam a todo custo extirpar uma parte essencial da vida do moleque metendo o coitado num curso de direito. Estavam pouco se fodendo para o que o menino realmente queria. Na última reportagem que eu vi desse caso fiquei rindo do que o garoto disse, quando desistiu de tentar assistir às aulas na universidade:

-Eu quero ser goleiro do São Paulo e falo sério (...).
-(...) Os treinos eu já faço em casa mesmo, não preciso de escolinha. Tem um amigo meu que chuta bem forte e teve um dia que ele acertou até o meu nariz.

Eu vou ignorar a preferência dele pelo São Paulo e pensar que é só uma criança inocente que obviamente está sendo mal-influenciada. No mais ele tá certíssimo. Novamente João Vítor dá provas de que é um guri esperto. Quando criança a gente tem mesmo é que sonhar. Na idade dele eu era do mesmo jeito. Na segunda queria ser ginecologista, na quarta queria ser um dos cachorros da Tv Colosso e no sábado eu queria ser motorista de trator.
O pai de João Vitor disse numa entrevista para o site O GloboOnline que nos próximos dez ou quinze anos será normal garotos com a idade de seu filho cursando uma faculdade, assim como advogados exercendo a profissão com apenas 15 anos.

- A humanidade está evoluida. Para você ver, hoje as crianças já nascem até com dente. Eu sugiro que as universidades particulares comecem a preparar um ambiente para jovens dessa idade. A estrutura da educação está muito arcaica e precisa evoluir (...)

O raciocício desse cara é explícitamente torpe e idiota. Mas não deixa de representar o imaginário moderno. Pensando assim, uma das fórmulas para o fim do mundo pode ser expressa da seguinte maneira:

-Vamos destruir infância. Assim destruímos as crianças. Assim destruímos os sonhos. Assim destruímos o homem.

2 comentários:

Anônimo disse...

hahahahahaha
O MELHOR do post, é a sua fotinho nenêm! huhuhuhuhu
Toooodo pimposo ;P

Anônimo disse...

xP