quarta-feira, 2 de julho de 2008

Pare (de beber) em nome da lei

"Um monte de espertos que formam uma nação de imbecis".

Um Cachorro Bravo escreve:

E lá vou eu falar de trânsito novamente.
Às vezes eu penso que é muita presunção minha. Oficialmente (é merdinhas de falsos-moralistas, oficialmente) eu dirijo há pouco mais de um ano, então eu não tenho o mesmo gabarito da dupla Pedro e Bino pra argumentar alguma coisa quando o assunto envolve rodas, motores e volante.


Só que não dá pra ficar calado quando o assunto em questão é a nova lei de trânsito em vigor desde o mês passado. É clichê dizer que essa lei é polêmica.
A lei anterior, que permitia um nível de até 0,6 mg/l de álcool no sangue do motorista já era, comparando com as leis de outros países, bastante rigorosa. Estados Unidos e Canadá, por exemplo, permitem até 0,8 mg/l de álcool. Com a nova lei, o Brasil entra pra lista dos países menos tolerantes com a bebida associada à direção, com o mesmo limite da Noruega e da Suécia.
Embora haja a resistência por parte dos motoristas antes acostumados a poder tomar uma latinha de cerveja e poder voltar pra casa dirigindo, dentro dos limites da lei (motoristas estes que são a minoria, vale lembrar), o foco da discussão fica por conta da aparente falta de planejamento do legislador ao implementar o decreto. Isto porque, como tem sido extenuantemente dito pelos vários veículos de informação, algumas questões são necessariamente levantadas:

1-Não há como efetivamente fiscalizar. Não há suficiente contingente de policiais rodoviários num país continental como o nosso. Se nas últimas semanas tantas pessoas foram multadas e detidas por conta da nova lei, este fato deve-se unicamente pela novidade e pelo frisson da mídia sobre o assunto. Além disso, várias outras leis anteriores a esta perderam o sentido pela ineficiência da fiscalização.
2-Pelos aspectos inconstitucionais evocados pela lei. Se, como preconiza a Constituição, ninguém é obrigado a fornecer prova contra si mesmo, então é perfeitamente possível o cidadão recusar-se a realizar o teste do bafômetro. Em última instância só quem não tiver condições financeiras suficientes para peitar um processo impetrado pela União é que será punido com a lei. Isso fere outro princípio constitucional, o da Isonomia.
3-A lei vai ser mais uma fonte de arrecadação pro governo e, em segundo plano, (me perdoe o meu amigo, o Sargento Sérgio) para a polícia que vai poder cobrar bem mais do que aqueles R$ 50,00 pela lanterna queimada.

-Deixa eu ver seus documentos e abre a boca pro teste do bafômetro!

Mas quem realmente tá perdendo com essa história toda é o empresariado. Um tempo atrás o legislador meteu o canetão e decretou que todo estudante tem direito a 50% de desconto em praticamente tudo. Daí proliferaram carteirinhas falsificadas. O empresário, em resposta, não teve outra saída a não ser aumentar absurdamente o preço dos espetáculos. E hoje eu reclamo por que em Brasília eu sou obrigado a pagar R$ 90,00 (uma entrada e meia) pra ver uma peça de teatro com uma acompanhante.



No Distrito Federal as pessoas não tem pra onde correr. Os preços dos espetáculos são absurdos, a cidade não tem praia, os parques, lagos e cachoeiras ficam muito longe dos centros urbanos. Então, os bares, restaurantes, boates e afins são os suavizadores do tédio. Com a lei seca, o movimento cái pra caralho. Afinal, todo mundo vai pro bar de carro. Ônibus, só até meia-noite e, ainda assim, eles são inviáveis para a maior parte dos brasilienses pela falta de disponibilidade, já que são poucas empresas e poucas linhas, dependendo do horário.
No fim das contas, é mais que certo que no final do ano o número de mortes causadas no trânsito vai se manter inalterado e talvez até aumentar.
E aí só nos resta esperar outra mão nervosa assinar outro papel inútil.

3 comentários:

Anônimo disse...

sim, mas você é uma pessoa atípica, porque faz parte de um misto entre as cidades do DF.

E Rafinha Bastos é um show pra elite mesmo pq o stand-up é o que tá em alta agora.

Apesar de todas as bandeiras q vc levanta de desigualdade e etc, tem q lembrar q os empresários não são assim em sua maioria. Esquecer as vezes a ideologia e ver a realidade.

Se eu fosse empresário, e pudesse ter certeza de lucro com um ingresso de 60 reais, sabendo que o espetáculo terá casa cheia, pq eu cobraria 20?!

apesar de ser a favor da democratização de muitas coisas como obras literárias e etc... estamos em país capitalista, o q serve de consolo, pq nao quer dizer q seremos sempre os mesmos...

Brain disse...

Eu não sei se eu entendi bem o
"pessoa atípica", mas eu vou encarar como uma coisa positiva. Eu acho.
O preço do show do Rafinha Bastos em outros estados nessa temporada varia entre R$ 25,00 e R$ 40,00. Em Brasília é R$ 60,00. Quando eu digo outros estados, eu incluo Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. O Show do Engenheiros, que teve uns meses atrás, é outro exemplo. Em Brasília, foi R$ 50,00 e em Goiânia, por exemplo, foi R$ 25,00. E numa outra cidade, no interior do Goiás chamada Sancrerlândia, o preço chegou a R$ 15,00. Duas coisas explicam essa variação toda: Não há muito o que se fazer em Brasília, então sempre tem um frisson quando esse tipo de atração aparece por aqui. Segundo: O Lago Norte é o terceiro melhor lugar do mundo pra se viver, batendo cidades da Suíça, por exemplo. Daí a galera quando vem pra cá imagina que o DF todo vive na mesma condição.
Mas enfim, o post foi sobre a lei seca. E na minha opinião o consumo das drogas ilícitas vai aumentar pra caráleo nos próximos meses. Que nem na Colômbia, onde a tolerância é zero. Lei seca. Lei burra.

Davi Rômulo disse...

Sei de uma coisa, essa policial ajudaria e muito os embriagados. Eu mesmo seria um bêbado ao volante a todo instante; ainda mais quando ela dissesse: “deixa-me ver seus documentos e abre a boca pro teste do bafômetro!” aí que tesão!!...
No mais, dêem uma olha no texto da seguinte página http://www.mundovigarista.com/2008/07/no-h-lei-seca-no-brasil.html