Um Cachorro Bravo escreve:
Algumas semanas atrás fui convidado por uma colega de trabalho para uma festa numa chácara em Sobradinho II.
Era por volta de onze e meia da noite e eu andava a 50km por hora, com um mapa do local do churrasco no colo, quando duas mulheres saltaram na frente do meu carro implorando por socorro.
-Pelo amor de Deus! Pára! Por favor! Tem um cara querendo matar a gente!
Eu não tive muito tempo pra pensar. Olhei para trás e vi um homem jovem, claro, com o rosto sangrando e com uma garrafa de cerveja quebrada na mão. Abri a porta do meu golzinho 95, pus as mulheres pra dentro do carro e arranquei pedindo a Deus para que o carro velho aguentasse o esforço.
-Muito obrigado, moço! Você caiu do Céu!
Passei a reparar nas mulheres que socorri. A que estava do meu lado usava um vestido curto com estampa de flores. Era loira, não lá muito bonita, aparentava ter por volta de 30 a 35 anos. Suas coxas estavam com marcas vermelhas e manchas de sangue. A outra que sentou no banco de trás vestia um moleton preto e calça jeans azul. Tinha o cabelo bastante curto, estilo militar e era meio gordinha. Suspeitei que fosse lésbica.
A que estava do meu lado começou a explicar a situação:
-A gente tava numa festa com outros três caras amigos nossos. Aí um outro cara que a gente nunca viu na vida veio mexer comigo e eu não quis. Ela tentou me defender e o cara furou ela com o caco de garrafa. Ela brigou com ele e a gente correu. Os caras que tavam com a gente sumiram. Deixaram a gente sozinhas.
Tive pena das mulheres. Ainda tremia os joelhos por causa da situação. Me dirigi para o posto da polícia que eu vi logo a frente.
-O cara furou minha barriga. To sentindo o sangue escorrer. Moço, me leva pro hospital?
Eu tava perdido. Não sabia nem onde eu tava, que dirá onde ficava o hospital. Falei que as levaria para o posto da Polícia e eles saberiam o que fazer.
-Melhor mesmo mulher. Vamo ficar lá na policia. Não vamo meter o menino nisso por que ele não tem nada a ver. Obrigado moço. Deus te abençoe. Muito obrigado!
Quando eu finalmente cheguei na chácara olhei o banco de trás e ele estava ensopado, assim como alguns papéis da faculdade. Contei o ocorrido para algumas pessoas e todas elas disseram que eu fui um idiota, que podia ser um assalto ou coisa pior. A única opnião diferente foi de um amigo que eu prefiro não identificar.
- Véio! Tu foi um herói! Mas foi um babaca também! Por que tu não pegou o telefone das muié? Tenho certeza de que no outro dia elas iam querer dar pra tu!
Um comentário:
Ahahahahahahahahahah! Concordo com a opinião de teu amigo não identificado, a danadinha de vestido florido poderia querer te recompensar. Doutro lado, os outros(as) opinantes demonstram o quanto são insensíveis ao sofrimento e aos problemas dos Outros, quão são distantes das outras pessoas. Omissão de socorro também é crime! E não só isso, ser indiferente num momento como este manifesta a covardia de seja qual for o omisso. É sabido que vivemos neste mundo tresloucado de desconfiança e visão de que o Outro é sempre uma possível ameaça à integridade pessoal. Se se quer construir um modo diferente de relações humanas temos de agir de maneira que tais visões sejam simplesmente banidas! É isso aí Hammurabi, foste um herói, mas faltou pegar o número de telefone das safadinhas ou mesmo marcar um encontro para vê-las novamente no intuito de iniciar uma possível aproximação redentora da vida dessas pobre mulheres.
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