Eu ainda estava extasiado com a visão da Praça do Palácio dos Leões no Centro Histórico quando me dei conta de que passaria o ano novo sozinho. Na verdade eu pensei nisso durante o trajeto de quatro horas de Caxias a São Luís, enquanto lembrava com o coração apertado do natal na casa da Vô Loura.
Atravessei a charmosa Rua da Palma e cheguei ao número 127. O casarão onde funcionava o albergue era tão charmoso quanto a rua onde estava situado. Entrei, me identifiquei e fui para o quarto desfazer a mala.
No dia seguinte, mais ou menos as nove da noite, meu celular tocou (foi a derradeira vez que este fato ocorreu enquanto estive na Ilha \o/). Era a Leó, prima da minha mãe, minha prima em segundo grau por definição e "tia" por consideração. Ela perguntou onde eu estava e onde passaria o ano novo. Respondi que passaria no albergue ou na rua.
Ela não gostou. Meia hora depois a simpática senhora estava me esperando no portão pra me levar pra ver o Reveillon na praia do Olho D'Água.
Eu perguntei à ela se seríamos só nós ou se mais gente estava nos esperando. Ela respondeu que seríamos só nós dois, já que os dois filhos dela estavam no Rio de Janeiro e o marido estava com uma outra filha em outra cidade que eu não recordo qual era. Eu não gostei da idéia. Eu ia passar a noite toda preso à tia velha (simpática, mas velha). Ia melar a minha noite.
Como era de se esperar, o ano novo não rendeu nada. Mas ainda assim foi muito divertido. Uma hora antes de 2008 começou a Festa de Iemanjá. Todos os terreiros de São Luís estavam concentrados na praia. Era uma convenção da macumba.
Mesmo com os pais e mães- de-santo fazendo cara feia pra mim, eu saí tirando foto e fazendo vídeos de tudo quanto é descarrego que eu via.
Por volta das três da manhã meus pés estavam inchados e eu estava zonzo de sono. Minha tia quis que eu fosse durmir na casa dela pelo menos dois dias, pra ela me explicar como achar as praias e demais entretenimentos, assim como saber notícias de Caxias e da minha mãe. Eu quis negar mas ela foi insistente. Por fim acabei cedendo e passei uma da piores noites da minha vida. Foi uma batalha homérica contra o calor, que não me deixava colocar sequer um lençol fino sobre o corpo e contra as muriçocas que disputavam o meu sangue que nem mulher em liquidação de calcinha. Acordei com o corpo dolorido e com o lábio inferior inchado, já que um daqueles insetos enviados pelo Príncipe das Trevas quis dar uma de Hebe Camargo e me deu um selinho.
Implorei por forças para aguentar a noite seguinte.
Tive uma idéia. Lembrei que embriagado eu não durmo, eu desfaleço. Falei pra minha tia que tinha achado um bar legal por perto e tava a fim de ir lá conhecer. Ela? Ela disse que ia comigo.
- Ô velha que bebe! Benza-a-Deus!
Minha idéia deu certo, desabei na cama que nem um prédio do Sérgio Naya. Mas também eu acho que até as muriçocas que gostaram da minha pessoa, ficaram de ressaca no dia seguinte.
Logo a tarde eu voltei pro albergue e surpresa! Meu quarto individual tinha sido passado para um espanhol. Só me restaram duas opções: Pegar um quarto coletivo ou voltar pra casa da tia Leó. A segunda hipótese foi de imediato descartada. No entanto, ir pro coletivo de quatro camas foi uma das coisas mais legais que me aconteceu (Além é claro de conhecer umas vagabundas que moram na rua da minha tia e do passeio aos Lençóis, que foi incrível).
Meus colegas de quarto eram o Josko (é isso mesmo), o austríaco mais brasileiro que eu já conheci (se bem que eu não conheço nenhum outro austríaco. Eu acho) e o Alex, um holandês careca que não fala nada em português.
Meu primeiro contato com eles foi na sala de estar do albergue. O Josko apresentou a si e ao "Lex" e me perguntou se eu conhecia algum lugar legal pra jantar. Levei eles pra um restaurante de comida caseira e eles se esbaldaram no arroz com feijão.
Aí então foi a vez de eles me levarem pra dar uma volta. Passamos em frente a um cine pornô e o Josko chamou uma prostituta, que chamou outra, que chamou outra. Eu fiquei sem reação com a atitude da gringalhada e com meu coração na garganta toda vez que a Marcela, minha "acompanhante", pegava no meu braço. Seguimos pra um bar copo sujo onde tava tocando música boa. O Josko sussurrou alguma coisa no ouvido do Alex e então o holandês soltou pra acompanhante dele:
-Ficar?
A meretriz só se jogou em cima do holandês e eu quase vomitei com a cena. Eu fiquei bebendo e conversando com a Marcela e, quando ela me intimou, eu pedi desculpas, inventei que tinha namorada em Brasília e que não tinha sido idéia minha "contratar os serviços dela".
Tá legal. Essa última parte não foi o que eu disse mas foi o que eu tentei deixar claro desde o início da conversa.
Paguei minha conta e a conta da Marcela e voltei pro Albergue. Os gringos? Só apareceram no dia seguinte por volta das dez da manhã. E o Josko, cujos ancestrais devem ter sido sodomitas, me convidou pra ir pra Bandida, um pré-carnaval que tem todo sábado e domingo durante o mês de janeiro. Respondi que no sábado não dava mas que no domingo eu ia. Na sexta e no sábado eu quietei o facho e só curtia praia no fim de tarde. Quem me conhece, sabe o por que.
No sábado a noite conheci o Roots, um bar de reggae em que eu passei quase todas as noites seguintes. Música boa, clima legal, mulheres bonitas e cerveja barata. Preciso dizer mais alguma coisa?
No domingo foi praia de manhã e Bandida a tarde. Meus amigos já estavam à minha espera e devidamente (é, eu não achei uma palavra melhor do que esta) acompanhados.
O Bloco de Pré-Carnaval, que era uma maratona de músicas sacanas (mete a piroca, mete a piroca!) e percorria o Centro Histórico não podia ser mais pervertido. E, enquanto eu pulava igual um louco no meio da multidão insana, mãos transitavam entre a minha àrea genital e o bumbum que mamãe passou talquinho. Algumas mãos em busca de sacanagem e algumas mãos em busca de pertences. O holandês mesmo perdeu a magnífica câmera digital que tinha levado. Coitado. Eu aposto que se tivessem traduzido "Bandida" pra ele, o careca teria saído do albergue pro bloco vestindo unicamente uma tanguinha laranja-mecânica.
Na segunda-feira foi o dia do passeio pra Lençóis. Desse, embora tenham ocorrido situações engraçadas que mereçam ser contadas, o tamanho do post não permite mais do que uma sugestão vigorosa para que visitem aquela maravilha.
À noite, conheci mais dois gringos que foram pro coletivo nº 5. Felix, um alemão de vinte e três anos que trabalha como voluntário numa escola no interior do Maranhão e o Jamie, um canadense de vinte e cinco anos, recém formado em engenharia civil que tava só conhecendo o mundo. Perguntei se eles já tinham jantado e eles responderam que não. Levei eles pra pizzaria que ficava na rua debaixo e lá encotramos o Alex. Fiz as devidas apresentações e de lá, partimos pro Roots. Eu tava com vontade de apostar com o alemão pra ver quem bebia mais cerveja. Se eu derrotasse um alemão, nunca mais beberia na minha vida. Como tava muito quente dentro do Bar, tomamos uma mesa na àrea externa. Lá encontramos um grupo misto de franceses que estavam sendo guiados por uma fotógrafa morena chamada Daniele. Como as cadeiras estavam muito próximas e o povo já estava todo meio alto, não foi difícil as conversas se confundirem e formarmos um grupo só. Somaram-se ainda a nós quatro engraxates que pediam que nós pagássemos uns traçados para eles. Eu os convidei pra sentarem com a gente e com isso estava feita a Torre de Babel. A Daniele tirou fotos da tropa de bêbados e, por volta das duas da manhã, ela levou os franceses de volta pra pousada deles. Ah! Um deles, o Marcos, era Torcedor Fanático do Flamengo. Eu fiquei envergonhado de não saber a metade das coisas que ele sabia sobre o Rubro-Negro. Eu tinha pedido o e-mail da Daniele para que me mandasse as fotos que ela tirou, já que eu não tinha levado minha câmera. Ela voltou da pousada com um papel onde estava anotado o e-mail dela e uma caneta para que eu anotasse o meu pra ela. Ela me perguntou depois se eu estava bêbado demais pra dançar e eu respondi que, pelo contrário, eu tinha era bebido o suficiente pra isso. O Reggae lento, a noite quente, o clima bom e uma paulista morena linda. A última balada não podia ter terminado melhor embora eu tivesse que abandonar a competição com o Alemão pra levar a Daniele de volta pra pousada dela. De manhã eu acrescentei mais algumas palavras ao vocabulário do Alex (eu ensinei muito palavrão e porcarias pra ele. Lex pode vir a ser o primeiro correspondente europeu da Confraria dos Bravos).
-Alex, Last night was very funny. In portuguese was a cabaré de gato!
-HAHAHAHAHA!!!!!! Cabaué di gato fi de puta!!!!!!! Respondeu ele.
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Escrevi esse post durante o voo de volta pra Brasília. Do meu lado tinha uma gorda-velha-enjoada que reclamou com o comissário de bordo que os assentos eram livres e que ela não tinha conseguido sentar na janelinha. Estava emputecida por que tinha reservado um lugar na janela. Eu quis pedir educadamente pra ela calar a boca, mas fiz que não com a cabeça. Na saída ela reclamou da demora e comentou que um avião deveria ter mais portas. Não me segurei e soltei:
-É! Deveriam por portas no teto que nem aqueles respiradores de ônibus. E um teto solar também não ia ser nada mal!
Risos dos ouvintes e um " ai, ninguém merece" da gorda.
Eu passo pela porta e sinto o frio do Playground do Niemeyer.
2 comentários:
Oiee...
esses gringos tão pensando o q? Q aki eh puteiro?!!? Q saco viu!!!
E ow sua acompanhante lucrou muito.. naum trabalhou e ainda ganhou!ohh chefe bom!! hahauha brincadeira! Estou orgulhosa de vc!!!
Hummmm .... reggae lento, morena bonita.. ahamm sei.... kkkkkkkkkkkkkk!
Mas q bom q sua viagem foi ótima!! Vamus beber p comemorar.... heheh
bjaumm!!!
HAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAAHHAHAAHAHAHAHAHAHAH!
muito bom!
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