“Crie corvos e eles te comerão os olhos”.
Geralmente eu não gosto de falar de temas relacionados à religião aqui no Confraria por alguns motivos. Eu os enumero abaixo:
1- Por uma orientação bíblica. Não se deve misturar o santo com o profano. E, de acordo com Jesus Cristo, não se deve lançar pérolas aos porcos. Não! Para mim, o animal que simboliza os Bravos Confrades é o cachorro, pela relação coincidente com os Pathos (como eu explicitei no post anterior). A metáfora com os porcos tem a ver com o fato de que um tema relacionado à religião pode ser mal compreendido e, por fim, pode se converter em alvo de zombaria.
2- Por acreditar que o Confraria seja um espaço para discussões que não privilegiam a religião. Os temas aqui tratados têm, em geral, dois vértices: diversão e reflexão. Mesmo este último nem sempre tem abertura para debates que envolvam religião.
3- Para evitar proselitismo religioso (nas palavras do Paulinho, abitolação).
Contudo, ultimamente tenho revisto muitos dos meus pontos de vista e percebi que tenho me acovardado perante coisas para as quais antes não hesitaria em defender ou criticar. E isso me tem gerado muita angústia. Em psicologia do desenvolvimento, chamamos isso de Contradição. Uma dessas coisas que tem me trazido angústia pode ser traduzida na percepção de como o preconceito a tudo que se chama valor tem tomado proporções assustadoras. Então, excepcionalmente neste post, vou treinar um comportamento assertivo. Quem não se sentir à vontade com um texto desse teor ou com medo de ouvir um sermão fora da igreja, leia a postagem anterior ou reclame nos comentários.
O estímulo para tanto vem de um ataque à Ministra do Meio Ambiente.
No início deste mês, a Ministra Marina Silva participou do 3º Simpósio sobre Criacionismo e Mídia, realizado pelo UNASP. Na ocasião, a Ministra expressou suas convicções sobre o criacionismo e reinterou que seria interessante se as escolas brasileiras adotassem o ensino de teorias alternativas à evolução assim como passassem a apontar as deficiências da mesma.
Foi o suficiente para que Marina fosse atirada num inferno particular. Quem eram seus demônios? Os "cientistas e jornalistas brasileiros".
Portal UOL - Ciência Hoje
Revista Época
Folha de São Paulo
Resumindo, crucificaram-na pela falha de caráter expressa por ser cristã e pelo atestado de ignorância demonstrado pela aceitação do modelo criacionista e pela rejeição ao darwinismo.
O que não sabem, ou pelo menos ignoram, os “cientistas e jornalistas brasileiros” é que fé de maneira alguma é sinônimo de ignorância e obscurantismo. Grandes cientistas como Newton, Pascal, Einstein, Galileu e Pasteur não eram indiferentes à fé e, pelo contrário, a utilizaram como estímulo para seus empreendimentos.
O que não sabem, ou pelo menos ignoram, os “cientistas e jornalistas brasileiros” é que é graças ao cristianismo que houve a abertura à investigação científica. Outras culturas não estimularam tanto o Zeitgeist que propiciou o desenvolvimento da ciência. Mesmo quando consideramos as culturas hindu e nipônica que guardam semelhanças com o darwinismo no que tange a “evolução da alma”.
O que não sabem, ou pelo menos ignoram, os “cientistas e jornalistas brasileiros” é que Design Inteligente e criacionismo não são a mesma coisa. O Design Inteligente é tão antigo e válido enquanto teoria de explicação das origens quanto é o Materialismo Histórico, do qual proveio a Teoria da Evolução.
A Escola de Atenas
A explicação da tela todo mundo já ouviu. Platão aponta para o Céu, para o metafísico. Numa ordem externa à nossa percepção a priori. É uma das inspirações do DI.
Aristóteles aponta para o chão, para o materialismo. É a base da Teoria da Evolução.
Nenhum criacionista ou adepto do DI sério despreza a importância da Teoria da Evolução. Aspectos como a micro-evolução e a seleção natural, elementos fundamentais da teoria, são indiscutíveis. Indiscutíveis por que são visíveis e podem ser testados na prática. Do jeito que o Skinner gosta.
No entanto, a apropriação irresponsável deste modelo, ou hipótese, foi a causa de algumas das mais horrendas páginas da História humana.
Logo que o darwinismo chegou nos Estados Unidos, os psicólogos de lá o utilizaram para selecionar os mais aptos para as melhores escolas, empregos ou para o exército e estigmatizar os menos aptos. Leia-se menos aptos os negros semi-analfabetos (ou totalmente analfabetos). Ainda hoje a imagem dos negros nos Estados Unidos está relacionada a uma menor capacidade intelectual. A política de destruição das raças inferiores adotada apaixonadamente por Hitler está carregada de amparos evolucionistas.
Agora, os brasileiros também querem dar sua contribuição ao infeliz legado do darwinismo cego. Duas grandes universidades do Rio Grande do Sul, a PUC e a UFRGS, pretendem realizar uma pesquisa com jovens envolvidos em crimes violentos. O objetivo é descobrir por meio de imagens de ressonância magnética se há alguma relação entre modificações no lobo frotal e o comportamento violento. Na teoria, pessoas com o lobo frontal menos desenvolvido ou com algum tipo de atrofia, teriam menos controle sobre seus impulsos (animais) e, portanto, mais tendência à violência. E mais. Exames de sangue também poderiam ser colhidos a fim de verificar se há similaridades entre os DNA's de homicidas.
Interessantíssimo. E capenga.
Sem levar em conta a história de vida dos jovens que cometeram atos criminosos nem o ambiente violento em que estavam inseridos, estes cientistas se valem do mesmo pressuposto que Lombroso usou para classificar delinquentes. Só para lembrar, Hitler utilizou o trabalho de Lombroso para levar para os campos de extermínio aqueles indivíduos (em geral, judeus) cujos crânios enquadravam-se nas definições do cientista como particulares de um marginal.
Trocando em miúdos, se eu ou você não tivermos um lobo frontal igualzinho aos dos pesquisadores da PUC e da UFRGS então nós somos potenciais assassinos. Isso por que em tese nós não evoluímos o suficiente do ancestral comum com nossos parentes chimpanzés, que costumam ser mais nervosinhos.
Engraçado que, numa pesquisa instantânea realizada pelo Fantástico, 90% das pessoas responderam afirmativamente à enquete que perguntava se elas concordavam com a pesquisa. E mais engraçado ainda é que o que vai dar de preto e pobre com o lobo frontal atrofiado não é brincadeira. Ou vocês acham que eles vão examinar o cérebro do promotor que assassinou o moto-boy no sinal?
Por fim, correndo o risco de ser taxado de proselitista (ou bitolado) eu coloco um trecho bíblico aqui. Acho que ele expressa muito do que eu quis dizer. São palavras do próprio Cristo.
"Então eles os entregarão para serem perseguidos e condenados à morte, e vocês serão odiados por todas as nações por minha causa. (...) Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará".
S. Mateus 24 versos 9 e 12. A Bíblia na Linguagem de Hoje.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Desqualificando o Pathos do Sujeito-Parte II
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
O «tudo» de mim
Somos condicionados a uma ‘estrutura simbólica’ que domina nossa interação com as outras pessoas. Quem são os condicionadores, «eu» ou «outros»? Os dois. «Eu»: busca de meu ‘eu’, por meu lugar no mundo, por minha responsabilidade, por reconhecimento, tentativa de transpor a necessidade pela liberdade, frustrado, ansioso, volitivo, racional, efêmero, fragmentado, etc; «outros»: indiferença, imposição ideológica, dominação das ‘estruturas simbólicas’, banalização do erótico, promessas de eternidade – amor – fama – sucesso – vigor – igualdade – superioridade – sexo – amizade – companheirismo – proximidade – confraternidade..., etc. No fim das contas: por um lado, deixo-me envolver pelo ‘simbólico’, já que assim sinto-me firme, consolado, apoiado; por outro lado, o ‘simbólico’ seduz-me, pois desejo ‘ser’ tal qual é-me oferecido.
Perambular freneticamente pela “aparência” é o que nos condiciona. A vontade de ser/ter “tudo”, e sempre, só manifesta a nossa finitude. E esse “tudo” não é senão “aparência”. Não que eu esteja categorizando “real” e “aparente”; falo da e pela “vida” temporal. Não nos enganemos, não seremos de “todas” as maneiras. Apresentamo-nos de muitos modos, transpomos a imediatidade individual, somos possíveis «existencialmente», todavia, no tempo presente. Ser “herói” (seja do pensamento, da luta, da salvação, da redenção, do sexo, da cura, da invenção, etc.) , como na antiguidade-atual, pode dar-lhe fama de longa data, porém, fisicamente não mais sentirá o calor do presente. É mortal saber disso, mas quem leva isso em conta? Afinal, se pensamos/agimos no agora sem perspectiva duma mudança futura, o que fazemos?
Transpor o «desígnio» para o próprio «destino» é tarefa que nos impomos inexoravelmente. Queremos realizar a reconciliação do «destino» com a «vida». Almejamos viver não de maneira necessária, causal, mas de modo «excedente», autêntico – desde que seja de mentira bem vista e contada. Isso não vem a dizer que “podemos” fazer de um “tudo”. O “tudo”, já foi dito, não “é”; não é possível; não é realizável no tempo da vida. Saudemos o que se será, já que o que se é, é apenas o que somos.
Perambular freneticamente pela “aparência” é o que nos condiciona. A vontade de ser/ter “tudo”, e sempre, só manifesta a nossa finitude. E esse “tudo” não é senão “aparência”. Não que eu esteja categorizando “real” e “aparente”; falo da e pela “vida” temporal. Não nos enganemos, não seremos de “todas” as maneiras. Apresentamo-nos de muitos modos, transpomos a imediatidade individual, somos possíveis «existencialmente», todavia, no tempo presente. Ser “herói” (seja do pensamento, da luta, da salvação, da redenção, do sexo, da cura, da invenção, etc.) , como na antiguidade-atual, pode dar-lhe fama de longa data, porém, fisicamente não mais sentirá o calor do presente. É mortal saber disso, mas quem leva isso em conta? Afinal, se pensamos/agimos no agora sem perspectiva duma mudança futura, o que fazemos?
Transpor o «desígnio» para o próprio «destino» é tarefa que nos impomos inexoravelmente. Queremos realizar a reconciliação do «destino» com a «vida». Almejamos viver não de maneira necessária, causal, mas de modo «excedente», autêntico – desde que seja de mentira bem vista e contada. Isso não vem a dizer que “podemos” fazer de um “tudo”. O “tudo”, já foi dito, não “é”; não é possível; não é realizável no tempo da vida. Saudemos o que se será, já que o que se é, é apenas o que somos.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Aquela Redação Infantil-Parte III
Eu ainda estava extasiado com a visão da Praça do Palácio dos Leões no Centro Histórico quando me dei conta de que passaria o ano novo sozinho. Na verdade eu pensei nisso durante o trajeto de quatro horas de Caxias a São Luís, enquanto lembrava com o coração apertado do natal na casa da Vô Loura.
Atravessei a charmosa Rua da Palma e cheguei ao número 127. O casarão onde funcionava o albergue era tão charmoso quanto a rua onde estava situado. Entrei, me identifiquei e fui para o quarto desfazer a mala.
No dia seguinte, mais ou menos as nove da noite, meu celular tocou (foi a derradeira vez que este fato ocorreu enquanto estive na Ilha \o/). Era a Leó, prima da minha mãe, minha prima em segundo grau por definição e "tia" por consideração. Ela perguntou onde eu estava e onde passaria o ano novo. Respondi que passaria no albergue ou na rua.
Ela não gostou. Meia hora depois a simpática senhora estava me esperando no portão pra me levar pra ver o Reveillon na praia do Olho D'Água.
Eu perguntei à ela se seríamos só nós ou se mais gente estava nos esperando. Ela respondeu que seríamos só nós dois, já que os dois filhos dela estavam no Rio de Janeiro e o marido estava com uma outra filha em outra cidade que eu não recordo qual era. Eu não gostei da idéia. Eu ia passar a noite toda preso à tia velha (simpática, mas velha). Ia melar a minha noite.
Como era de se esperar, o ano novo não rendeu nada. Mas ainda assim foi muito divertido. Uma hora antes de 2008 começou a Festa de Iemanjá. Todos os terreiros de São Luís estavam concentrados na praia. Era uma convenção da macumba.
Mesmo com os pais e mães- de-santo fazendo cara feia pra mim, eu saí tirando foto e fazendo vídeos de tudo quanto é descarrego que eu via.
Por volta das três da manhã meus pés estavam inchados e eu estava zonzo de sono. Minha tia quis que eu fosse durmir na casa dela pelo menos dois dias, pra ela me explicar como achar as praias e demais entretenimentos, assim como saber notícias de Caxias e da minha mãe. Eu quis negar mas ela foi insistente. Por fim acabei cedendo e passei uma da piores noites da minha vida. Foi uma batalha homérica contra o calor, que não me deixava colocar sequer um lençol fino sobre o corpo e contra as muriçocas que disputavam o meu sangue que nem mulher em liquidação de calcinha. Acordei com o corpo dolorido e com o lábio inferior inchado, já que um daqueles insetos enviados pelo Príncipe das Trevas quis dar uma de Hebe Camargo e me deu um selinho.
Implorei por forças para aguentar a noite seguinte.
Tive uma idéia. Lembrei que embriagado eu não durmo, eu desfaleço. Falei pra minha tia que tinha achado um bar legal por perto e tava a fim de ir lá conhecer. Ela? Ela disse que ia comigo.
- Ô velha que bebe! Benza-a-Deus!
Minha idéia deu certo, desabei na cama que nem um prédio do Sérgio Naya. Mas também eu acho que até as muriçocas que gostaram da minha pessoa, ficaram de ressaca no dia seguinte.
Logo a tarde eu voltei pro albergue e surpresa! Meu quarto individual tinha sido passado para um espanhol. Só me restaram duas opções: Pegar um quarto coletivo ou voltar pra casa da tia Leó. A segunda hipótese foi de imediato descartada. No entanto, ir pro coletivo de quatro camas foi uma das coisas mais legais que me aconteceu (Além é claro de conhecer umas vagabundas que moram na rua da minha tia e do passeio aos Lençóis, que foi incrível).
Meus colegas de quarto eram o Josko (é isso mesmo), o austríaco mais brasileiro que eu já conheci (se bem que eu não conheço nenhum outro austríaco. Eu acho) e o Alex, um holandês careca que não fala nada em português.
Meu primeiro contato com eles foi na sala de estar do albergue. O Josko apresentou a si e ao "Lex" e me perguntou se eu conhecia algum lugar legal pra jantar. Levei eles pra um restaurante de comida caseira e eles se esbaldaram no arroz com feijão.
Aí então foi a vez de eles me levarem pra dar uma volta. Passamos em frente a um cine pornô e o Josko chamou uma prostituta, que chamou outra, que chamou outra. Eu fiquei sem reação com a atitude da gringalhada e com meu coração na garganta toda vez que a Marcela, minha "acompanhante", pegava no meu braço. Seguimos pra um bar copo sujo onde tava tocando música boa. O Josko sussurrou alguma coisa no ouvido do Alex e então o holandês soltou pra acompanhante dele:
-Ficar?
A meretriz só se jogou em cima do holandês e eu quase vomitei com a cena. Eu fiquei bebendo e conversando com a Marcela e, quando ela me intimou, eu pedi desculpas, inventei que tinha namorada em Brasília e que não tinha sido idéia minha "contratar os serviços dela".
Tá legal. Essa última parte não foi o que eu disse mas foi o que eu tentei deixar claro desde o início da conversa.
Paguei minha conta e a conta da Marcela e voltei pro Albergue. Os gringos? Só apareceram no dia seguinte por volta das dez da manhã. E o Josko, cujos ancestrais devem ter sido sodomitas, me convidou pra ir pra Bandida, um pré-carnaval que tem todo sábado e domingo durante o mês de janeiro. Respondi que no sábado não dava mas que no domingo eu ia. Na sexta e no sábado eu quietei o facho e só curtia praia no fim de tarde. Quem me conhece, sabe o por que.
No sábado a noite conheci o Roots, um bar de reggae em que eu passei quase todas as noites seguintes. Música boa, clima legal, mulheres bonitas e cerveja barata. Preciso dizer mais alguma coisa?
No domingo foi praia de manhã e Bandida a tarde. Meus amigos já estavam à minha espera e devidamente (é, eu não achei uma palavra melhor do que esta) acompanhados.
O Bloco de Pré-Carnaval, que era uma maratona de músicas sacanas (mete a piroca, mete a piroca!) e percorria o Centro Histórico não podia ser mais pervertido. E, enquanto eu pulava igual um louco no meio da multidão insana, mãos transitavam entre a minha àrea genital e o bumbum que mamãe passou talquinho. Algumas mãos em busca de sacanagem e algumas mãos em busca de pertences. O holandês mesmo perdeu a magnífica câmera digital que tinha levado. Coitado. Eu aposto que se tivessem traduzido "Bandida" pra ele, o careca teria saído do albergue pro bloco vestindo unicamente uma tanguinha laranja-mecânica.
Na segunda-feira foi o dia do passeio pra Lençóis. Desse, embora tenham ocorrido situações engraçadas que mereçam ser contadas, o tamanho do post não permite mais do que uma sugestão vigorosa para que visitem aquela maravilha.
À noite, conheci mais dois gringos que foram pro coletivo nº 5. Felix, um alemão de vinte e três anos que trabalha como voluntário numa escola no interior do Maranhão e o Jamie, um canadense de vinte e cinco anos, recém formado em engenharia civil que tava só conhecendo o mundo. Perguntei se eles já tinham jantado e eles responderam que não. Levei eles pra pizzaria que ficava na rua debaixo e lá encotramos o Alex. Fiz as devidas apresentações e de lá, partimos pro Roots. Eu tava com vontade de apostar com o alemão pra ver quem bebia mais cerveja. Se eu derrotasse um alemão, nunca mais beberia na minha vida. Como tava muito quente dentro do Bar, tomamos uma mesa na àrea externa. Lá encontramos um grupo misto de franceses que estavam sendo guiados por uma fotógrafa morena chamada Daniele. Como as cadeiras estavam muito próximas e o povo já estava todo meio alto, não foi difícil as conversas se confundirem e formarmos um grupo só. Somaram-se ainda a nós quatro engraxates que pediam que nós pagássemos uns traçados para eles. Eu os convidei pra sentarem com a gente e com isso estava feita a Torre de Babel. A Daniele tirou fotos da tropa de bêbados e, por volta das duas da manhã, ela levou os franceses de volta pra pousada deles. Ah! Um deles, o Marcos, era Torcedor Fanático do Flamengo. Eu fiquei envergonhado de não saber a metade das coisas que ele sabia sobre o Rubro-Negro. Eu tinha pedido o e-mail da Daniele para que me mandasse as fotos que ela tirou, já que eu não tinha levado minha câmera. Ela voltou da pousada com um papel onde estava anotado o e-mail dela e uma caneta para que eu anotasse o meu pra ela. Ela me perguntou depois se eu estava bêbado demais pra dançar e eu respondi que, pelo contrário, eu tinha era bebido o suficiente pra isso. O Reggae lento, a noite quente, o clima bom e uma paulista morena linda. A última balada não podia ter terminado melhor embora eu tivesse que abandonar a competição com o Alemão pra levar a Daniele de volta pra pousada dela. De manhã eu acrescentei mais algumas palavras ao vocabulário do Alex (eu ensinei muito palavrão e porcarias pra ele. Lex pode vir a ser o primeiro correspondente europeu da Confraria dos Bravos).
-Alex, Last night was very funny. In portuguese was a cabaré de gato!
-HAHAHAHAHA!!!!!! Cabaué di gato fi de puta!!!!!!! Respondeu ele.
**********************************************************************
Escrevi esse post durante o voo de volta pra Brasília. Do meu lado tinha uma gorda-velha-enjoada que reclamou com o comissário de bordo que os assentos eram livres e que ela não tinha conseguido sentar na janelinha. Estava emputecida por que tinha reservado um lugar na janela. Eu quis pedir educadamente pra ela calar a boca, mas fiz que não com a cabeça. Na saída ela reclamou da demora e comentou que um avião deveria ter mais portas. Não me segurei e soltei:
-É! Deveriam por portas no teto que nem aqueles respiradores de ônibus. E um teto solar também não ia ser nada mal!
Risos dos ouvintes e um " ai, ninguém merece" da gorda.
Eu passo pela porta e sinto o frio do Playground do Niemeyer.
Atravessei a charmosa Rua da Palma e cheguei ao número 127. O casarão onde funcionava o albergue era tão charmoso quanto a rua onde estava situado. Entrei, me identifiquei e fui para o quarto desfazer a mala.
No dia seguinte, mais ou menos as nove da noite, meu celular tocou (foi a derradeira vez que este fato ocorreu enquanto estive na Ilha \o/). Era a Leó, prima da minha mãe, minha prima em segundo grau por definição e "tia" por consideração. Ela perguntou onde eu estava e onde passaria o ano novo. Respondi que passaria no albergue ou na rua.
Ela não gostou. Meia hora depois a simpática senhora estava me esperando no portão pra me levar pra ver o Reveillon na praia do Olho D'Água.
Eu perguntei à ela se seríamos só nós ou se mais gente estava nos esperando. Ela respondeu que seríamos só nós dois, já que os dois filhos dela estavam no Rio de Janeiro e o marido estava com uma outra filha em outra cidade que eu não recordo qual era. Eu não gostei da idéia. Eu ia passar a noite toda preso à tia velha (simpática, mas velha). Ia melar a minha noite.
Como era de se esperar, o ano novo não rendeu nada. Mas ainda assim foi muito divertido. Uma hora antes de 2008 começou a Festa de Iemanjá. Todos os terreiros de São Luís estavam concentrados na praia. Era uma convenção da macumba.
Mesmo com os pais e mães- de-santo fazendo cara feia pra mim, eu saí tirando foto e fazendo vídeos de tudo quanto é descarrego que eu via.
Por volta das três da manhã meus pés estavam inchados e eu estava zonzo de sono. Minha tia quis que eu fosse durmir na casa dela pelo menos dois dias, pra ela me explicar como achar as praias e demais entretenimentos, assim como saber notícias de Caxias e da minha mãe. Eu quis negar mas ela foi insistente. Por fim acabei cedendo e passei uma da piores noites da minha vida. Foi uma batalha homérica contra o calor, que não me deixava colocar sequer um lençol fino sobre o corpo e contra as muriçocas que disputavam o meu sangue que nem mulher em liquidação de calcinha. Acordei com o corpo dolorido e com o lábio inferior inchado, já que um daqueles insetos enviados pelo Príncipe das Trevas quis dar uma de Hebe Camargo e me deu um selinho.
Implorei por forças para aguentar a noite seguinte.
Tive uma idéia. Lembrei que embriagado eu não durmo, eu desfaleço. Falei pra minha tia que tinha achado um bar legal por perto e tava a fim de ir lá conhecer. Ela? Ela disse que ia comigo.
- Ô velha que bebe! Benza-a-Deus!
Minha idéia deu certo, desabei na cama que nem um prédio do Sérgio Naya. Mas também eu acho que até as muriçocas que gostaram da minha pessoa, ficaram de ressaca no dia seguinte.
Logo a tarde eu voltei pro albergue e surpresa! Meu quarto individual tinha sido passado para um espanhol. Só me restaram duas opções: Pegar um quarto coletivo ou voltar pra casa da tia Leó. A segunda hipótese foi de imediato descartada. No entanto, ir pro coletivo de quatro camas foi uma das coisas mais legais que me aconteceu (Além é claro de conhecer umas vagabundas que moram na rua da minha tia e do passeio aos Lençóis, que foi incrível).
Meus colegas de quarto eram o Josko (é isso mesmo), o austríaco mais brasileiro que eu já conheci (se bem que eu não conheço nenhum outro austríaco. Eu acho) e o Alex, um holandês careca que não fala nada em português.
Meu primeiro contato com eles foi na sala de estar do albergue. O Josko apresentou a si e ao "Lex" e me perguntou se eu conhecia algum lugar legal pra jantar. Levei eles pra um restaurante de comida caseira e eles se esbaldaram no arroz com feijão.
Aí então foi a vez de eles me levarem pra dar uma volta. Passamos em frente a um cine pornô e o Josko chamou uma prostituta, que chamou outra, que chamou outra. Eu fiquei sem reação com a atitude da gringalhada e com meu coração na garganta toda vez que a Marcela, minha "acompanhante", pegava no meu braço. Seguimos pra um bar copo sujo onde tava tocando música boa. O Josko sussurrou alguma coisa no ouvido do Alex e então o holandês soltou pra acompanhante dele:
-Ficar?
A meretriz só se jogou em cima do holandês e eu quase vomitei com a cena. Eu fiquei bebendo e conversando com a Marcela e, quando ela me intimou, eu pedi desculpas, inventei que tinha namorada em Brasília e que não tinha sido idéia minha "contratar os serviços dela".
Tá legal. Essa última parte não foi o que eu disse mas foi o que eu tentei deixar claro desde o início da conversa.
Paguei minha conta e a conta da Marcela e voltei pro Albergue. Os gringos? Só apareceram no dia seguinte por volta das dez da manhã. E o Josko, cujos ancestrais devem ter sido sodomitas, me convidou pra ir pra Bandida, um pré-carnaval que tem todo sábado e domingo durante o mês de janeiro. Respondi que no sábado não dava mas que no domingo eu ia. Na sexta e no sábado eu quietei o facho e só curtia praia no fim de tarde. Quem me conhece, sabe o por que.
No sábado a noite conheci o Roots, um bar de reggae em que eu passei quase todas as noites seguintes. Música boa, clima legal, mulheres bonitas e cerveja barata. Preciso dizer mais alguma coisa?
No domingo foi praia de manhã e Bandida a tarde. Meus amigos já estavam à minha espera e devidamente (é, eu não achei uma palavra melhor do que esta) acompanhados.
O Bloco de Pré-Carnaval, que era uma maratona de músicas sacanas (mete a piroca, mete a piroca!) e percorria o Centro Histórico não podia ser mais pervertido. E, enquanto eu pulava igual um louco no meio da multidão insana, mãos transitavam entre a minha àrea genital e o bumbum que mamãe passou talquinho. Algumas mãos em busca de sacanagem e algumas mãos em busca de pertences. O holandês mesmo perdeu a magnífica câmera digital que tinha levado. Coitado. Eu aposto que se tivessem traduzido "Bandida" pra ele, o careca teria saído do albergue pro bloco vestindo unicamente uma tanguinha laranja-mecânica.
Na segunda-feira foi o dia do passeio pra Lençóis. Desse, embora tenham ocorrido situações engraçadas que mereçam ser contadas, o tamanho do post não permite mais do que uma sugestão vigorosa para que visitem aquela maravilha.
À noite, conheci mais dois gringos que foram pro coletivo nº 5. Felix, um alemão de vinte e três anos que trabalha como voluntário numa escola no interior do Maranhão e o Jamie, um canadense de vinte e cinco anos, recém formado em engenharia civil que tava só conhecendo o mundo. Perguntei se eles já tinham jantado e eles responderam que não. Levei eles pra pizzaria que ficava na rua debaixo e lá encotramos o Alex. Fiz as devidas apresentações e de lá, partimos pro Roots. Eu tava com vontade de apostar com o alemão pra ver quem bebia mais cerveja. Se eu derrotasse um alemão, nunca mais beberia na minha vida. Como tava muito quente dentro do Bar, tomamos uma mesa na àrea externa. Lá encontramos um grupo misto de franceses que estavam sendo guiados por uma fotógrafa morena chamada Daniele. Como as cadeiras estavam muito próximas e o povo já estava todo meio alto, não foi difícil as conversas se confundirem e formarmos um grupo só. Somaram-se ainda a nós quatro engraxates que pediam que nós pagássemos uns traçados para eles. Eu os convidei pra sentarem com a gente e com isso estava feita a Torre de Babel. A Daniele tirou fotos da tropa de bêbados e, por volta das duas da manhã, ela levou os franceses de volta pra pousada deles. Ah! Um deles, o Marcos, era Torcedor Fanático do Flamengo. Eu fiquei envergonhado de não saber a metade das coisas que ele sabia sobre o Rubro-Negro. Eu tinha pedido o e-mail da Daniele para que me mandasse as fotos que ela tirou, já que eu não tinha levado minha câmera. Ela voltou da pousada com um papel onde estava anotado o e-mail dela e uma caneta para que eu anotasse o meu pra ela. Ela me perguntou depois se eu estava bêbado demais pra dançar e eu respondi que, pelo contrário, eu tinha era bebido o suficiente pra isso. O Reggae lento, a noite quente, o clima bom e uma paulista morena linda. A última balada não podia ter terminado melhor embora eu tivesse que abandonar a competição com o Alemão pra levar a Daniele de volta pra pousada dela. De manhã eu acrescentei mais algumas palavras ao vocabulário do Alex (eu ensinei muito palavrão e porcarias pra ele. Lex pode vir a ser o primeiro correspondente europeu da Confraria dos Bravos).
-Alex, Last night was very funny. In portuguese was a cabaré de gato!
-HAHAHAHAHA!!!!!! Cabaué di gato fi de puta!!!!!!! Respondeu ele.
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Escrevi esse post durante o voo de volta pra Brasília. Do meu lado tinha uma gorda-velha-enjoada que reclamou com o comissário de bordo que os assentos eram livres e que ela não tinha conseguido sentar na janelinha. Estava emputecida por que tinha reservado um lugar na janela. Eu quis pedir educadamente pra ela calar a boca, mas fiz que não com a cabeça. Na saída ela reclamou da demora e comentou que um avião deveria ter mais portas. Não me segurei e soltei:
-É! Deveriam por portas no teto que nem aqueles respiradores de ônibus. E um teto solar também não ia ser nada mal!
Risos dos ouvintes e um " ai, ninguém merece" da gorda.
Eu passo pela porta e sinto o frio do Playground do Niemeyer.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
“'SEVEN': OS SETE CRIMES CAPITAIS”
“Seven: os sete crimes capitais”. Direção: David Fincher. Produção: Phyllis Carlyle e Arnold Kopelson. Roteiro: Andrew Kevin Walker. Intérpretes: Morgan Freeman (Detetive William Somerset); Brad Pitt (Detetive David Mills); Kevin Spacey (John Doe); Gwyneth Paltrow (Tracy Mills); R. Lee Ermey (Capitão da polícia) e outros. [EUA: New Line Cinema]. 1995. 1 DVD (128 min), son., color.
1. Diálogos intertextuais
Característica inalienável do texto fílmico é a intertextualidade. Várias vozes convergem para comunicarem as cifras do ‘ser’. O “Seven” é um bom exemplo disso; há nele diferentes vozes conjugadas dialeticamente em, pelo menos, dois planos: no primeiro, a investigação – aqui representada por dois distintos Detetives –, e no segundo, a ação criminosa – tento como representante o “assassino”. A trama passa-se em níveis dialógicos, isto é, os investigadores e o “assassino” estão em constante ato comunicativo. O dialogismo é notável logo no primeiro crime. John Doe, em cada atitude, transmite uma mensagem por intermédio de cifras. Utiliza-se de trechos de livros de autores tais como John Milton, Shakespeare, Dante Alighieri, Geoffrey Chaucer, entre outros; não deixa de escolher a vítima de maneira específica, essa tem de “corporificar” um dentre os sete pecados capitais.
2. Simbólico
O simbólico não é senão código significante. E esse filme transborda simbologia. E não poderia ser diferente, já que os gêneros policial e suspense o requerem assim. São cenas cuja composição necessita obrigatoriamente do simbólico para que haja um enredo bem estruturado e com significatividade; é só atentar-se para as correspondências intrínsecas entre imagens e discursos que perpassam todas as cenas.
2.1. ‘Sete’
Deve-se observar a centralidade que ocupa o numeral 7. O título do filme é sete; faz-se referência ao texto bíblico, a criação do mundo; as cenas transcorrem em uma semana; é a última semana de serviços do Detetive Somerset; o horário de entrega da cabeça da esposa do Detetive Mills; e de modo dramático, os sete pecados capitais, que acabam por serem motivadores dos sete crimes capitais.
2.1.2. Os livros como indicação/inspiração dos crimes
Ademais, os trechos retirados de alguns livros são cruciais para decifrar/decodificar o que está acontecendo, o por que desses crimes. A Literatura aparece como ferramenta de dois lados. De um lado, os Detetives usam-na para buscarem os pressupostos motivacionais de Doe. Doutro lado, o próprio John Doe vive ao modo que interpreta a cultura literária.
3. Os detetives Somerset e Mills e o assassino John Doe
«Só sabemos dele é que é rico, culto e completamente louco»; «metódico, preciso e paciente»; «freqüenta bibliotecas» e é um ávido leitor. Isso é o que se sabe sobre Doe. Suas ações e a si mesmo são o que hão de ser levados em conta no processo de decifração. Os detetives Somerset e Mills assumem posições interpretativas diferentes quanto às atitudes e a pessoa de Jonathan Doe. Essa diferença manifesta-se de maneira mais acentuada em relação ao conhecimento literário, já que os crimes são baseados na leitura que Doe faz de obras literárias. Somerset é um profundo conhecedor da Literatura; é um leitor paciente; tem alta capacidade analítica; serve-se de um método na apuração dos fatos; é quem acolhe o casal Mills na cidade[1], demonstrando grande experiência de vida. Já o detetive David Mills, um jovem e impetuoso recém chegado à cidade; em certo momento, demonstra indignação com Dante Alighieri, pois não compreende a ligação do texto com as ações criminosas; aqui e ali dá provas de desconhecimento literário, por exemplo, não sabe que O Mercador de Veneza é um livro, não sabe pronunciar o nome de Marquês de Sade e o de Tomás de Aquino; mostra-se impaciente ao ter que ler vários livros para concluir a investigação. Ora, então, certamente, existem dois tipos de leitores. E esses leitores confrontam-se a todo instante quanto à abordagem interpretativa dos indícios deixados por Doe.
Como fora dito, a identidade de Doe é desconhecida. Todavia, ele diz que quem o é não importa, nada significa, e, sim, o que ele está fazendo, o trabalho dele é excepcional. Intitula-se purificador (kathartès), tem de realizar uma purificação (kàtharsis) na Cidade. Doe fala: «nós vemos um pecado capital em cada esquina, em cada lar e o toleramos. Nós o toleramos porque é comum. É trivial. Nós o toleramos de manhã, de tarde e de noite. Quer dizer, tolerávamos. Estou dando o exemplo. E o que fiz, será decifrado, estudado e seguido para sempre.» Aqui nota-se quão trágica é a posição que Doe nos coloca, somos todos culpados e coniventes com o mal. Ele faz uma inversão de valores. Afinal, quem é culpado? Quem aceita, ou melhor, pratica a banalidade do pecado? É tentador apontá-lo como criminoso, cuja racionalidade transformou-se em cega crença – no intento de criação duma Cidade impoluta e regrada por códigos divinos. Contudo, ao final do filme ele é vítima de assassinato, por ser acometido pela inveja.
Desta sorte, Doe transpõe seu desígnio para o próprio destino. Acontece uma reconciliação com o destino e com a vida. E aqui cito as pertinentes palavras de Peter Szondi, «pois não é o aniquilamento que é trágico, mas o fato de a salvação tornar-se aniquilamento; não é no declínio do herói que se cumpre a tragicidade, mas no fato de o homem sucumbir no caminho que tomou justamente para fugir da ruína. Essa experiência fundamental do herói, que se confirma a cada um de seus passos, acaba por remeter a uma outra experiência: a de que é apenas no final do caminho para ruína que estão a salvação e a redenção.»[2]
4. Édipo Rei e Seven
A comparação entre a tragédia Édipo Rei e o filme Seven pode parecer anacrônica, mas a faço para exemplificar como o processo de leitura muda as “visões de mundo” (Weltanschauung).
Alguns pontos análogos são: (i) a Cidade(pólis) em conflito, assolada por “contaminação” (mìasma): Édipo Rei inicia-se constatando-se os males que transtornam a todos; em Seven há os pecados que acossam a sociedade. (ii) A relação entre desígnio e destino (liberdade e necessidade): procura por si mesmo, por seu lugar (topos) no mundo, por sua responsabilidade, tentativa de transpor a necessidade pela liberdade – no caso de Édipo, busaca-se driblar o destino, por outro lado, John Doe cria um destino para si. (iii) Sabedoria: transparece de forma central tanto no Édipo Rei quanto no Seven; Édipo é quem examina, indaga, investiga e de maneira trágica descobre a dinâminca da vida, da própria vida; Somerset, Mills e Doe são personagens extremamente sutis, interpretam, colhem dados, investigam, refletem, julgam senão a vivência humana. (iv) Relação Deus(es) e Humanos: a divindade é, manifestamente, almejada pelo ser humano – regra-se a vida ditada pelo paradigma do sagrado. (v) Quem se é e Quem aparenta ser: louco, monstro ou apenas um homem comum (Seven)?; Édipo pensa ser uma pessoa, mas logo saberá que é outra. (vi) Purificação (kàtharsis): é realizada fora da Cidade, Édipo é expulso de Tebas; já Doe exige que seja levado para um local distante da vida social, é ali que será purificado, que cessará a contaminação da cidade. (vii) A violência como forma de purificação: os crimes são os sermões de John Doe; Édipo propõe violentas penalidade ao assassino de Laio, também atenta-se contra o próprio corpo ao ver-se envolvido nos males de si mesmo e do coletivo.
De resto, aqui pude ver uma «estrutura» de realidade duma vida excessiva como a nossa o é.
Fica, então, como sugestão: ler o Édipo Rei de Sófocles e assitir ao filme Seven.
[1] Vide Toledo, Eunice Lopes de Souza. “O entrelaçamento de vozes para compor a tessitura de ‘Seven’, de David Fincher”. Estudos Lingüísticos, XXXIII. 2004, p. 942.
[2] Szondi, Peter. Ensaio sobre o Trágico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. Itálicos meus.
Referências Bibliográficas:
- Kury, Mário da Gama. A Trilogia Tebana. 10ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
- Szondi, Peter. Ensaio sobre o Trágico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
- Toledo, Eunice Lopes de Souza. “O entrelaçamento de vozes para compor a tessitura de ‘Seven’, de David Fincher”. Estudos Lingüísticos, XXXIII. 2004. Disponível em http://www.gel.org.br/4publica-estudos-2004/4publica-estudos2004-pdfs-comunics/o_entrelacamento.pdf. Acesso em: 22/11/2007.
- Vieira, Trajano. Édipo Rei de Sófocles. São Paulo: Perspectiva, 2004.
1. Diálogos intertextuais
Característica inalienável do texto fílmico é a intertextualidade. Várias vozes convergem para comunicarem as cifras do ‘ser’. O “Seven” é um bom exemplo disso; há nele diferentes vozes conjugadas dialeticamente em, pelo menos, dois planos: no primeiro, a investigação – aqui representada por dois distintos Detetives –, e no segundo, a ação criminosa – tento como representante o “assassino”. A trama passa-se em níveis dialógicos, isto é, os investigadores e o “assassino” estão em constante ato comunicativo. O dialogismo é notável logo no primeiro crime. John Doe, em cada atitude, transmite uma mensagem por intermédio de cifras. Utiliza-se de trechos de livros de autores tais como John Milton, Shakespeare, Dante Alighieri, Geoffrey Chaucer, entre outros; não deixa de escolher a vítima de maneira específica, essa tem de “corporificar” um dentre os sete pecados capitais.
2. Simbólico
O simbólico não é senão código significante. E esse filme transborda simbologia. E não poderia ser diferente, já que os gêneros policial e suspense o requerem assim. São cenas cuja composição necessita obrigatoriamente do simbólico para que haja um enredo bem estruturado e com significatividade; é só atentar-se para as correspondências intrínsecas entre imagens e discursos que perpassam todas as cenas.
2.1. ‘Sete’
Deve-se observar a centralidade que ocupa o numeral 7. O título do filme é sete; faz-se referência ao texto bíblico, a criação do mundo; as cenas transcorrem em uma semana; é a última semana de serviços do Detetive Somerset; o horário de entrega da cabeça da esposa do Detetive Mills; e de modo dramático, os sete pecados capitais, que acabam por serem motivadores dos sete crimes capitais.
2.1.2. Os livros como indicação/inspiração dos crimes
Ademais, os trechos retirados de alguns livros são cruciais para decifrar/decodificar o que está acontecendo, o por que desses crimes. A Literatura aparece como ferramenta de dois lados. De um lado, os Detetives usam-na para buscarem os pressupostos motivacionais de Doe. Doutro lado, o próprio John Doe vive ao modo que interpreta a cultura literária.
3. Os detetives Somerset e Mills e o assassino John Doe
«Só sabemos dele é que é rico, culto e completamente louco»; «metódico, preciso e paciente»; «freqüenta bibliotecas» e é um ávido leitor. Isso é o que se sabe sobre Doe. Suas ações e a si mesmo são o que hão de ser levados em conta no processo de decifração. Os detetives Somerset e Mills assumem posições interpretativas diferentes quanto às atitudes e a pessoa de Jonathan Doe. Essa diferença manifesta-se de maneira mais acentuada em relação ao conhecimento literário, já que os crimes são baseados na leitura que Doe faz de obras literárias. Somerset é um profundo conhecedor da Literatura; é um leitor paciente; tem alta capacidade analítica; serve-se de um método na apuração dos fatos; é quem acolhe o casal Mills na cidade[1], demonstrando grande experiência de vida. Já o detetive David Mills, um jovem e impetuoso recém chegado à cidade; em certo momento, demonstra indignação com Dante Alighieri, pois não compreende a ligação do texto com as ações criminosas; aqui e ali dá provas de desconhecimento literário, por exemplo, não sabe que O Mercador de Veneza é um livro, não sabe pronunciar o nome de Marquês de Sade e o de Tomás de Aquino; mostra-se impaciente ao ter que ler vários livros para concluir a investigação. Ora, então, certamente, existem dois tipos de leitores. E esses leitores confrontam-se a todo instante quanto à abordagem interpretativa dos indícios deixados por Doe.
Como fora dito, a identidade de Doe é desconhecida. Todavia, ele diz que quem o é não importa, nada significa, e, sim, o que ele está fazendo, o trabalho dele é excepcional. Intitula-se purificador (kathartès), tem de realizar uma purificação (kàtharsis) na Cidade. Doe fala: «nós vemos um pecado capital em cada esquina, em cada lar e o toleramos. Nós o toleramos porque é comum. É trivial. Nós o toleramos de manhã, de tarde e de noite. Quer dizer, tolerávamos. Estou dando o exemplo. E o que fiz, será decifrado, estudado e seguido para sempre.» Aqui nota-se quão trágica é a posição que Doe nos coloca, somos todos culpados e coniventes com o mal. Ele faz uma inversão de valores. Afinal, quem é culpado? Quem aceita, ou melhor, pratica a banalidade do pecado? É tentador apontá-lo como criminoso, cuja racionalidade transformou-se em cega crença – no intento de criação duma Cidade impoluta e regrada por códigos divinos. Contudo, ao final do filme ele é vítima de assassinato, por ser acometido pela inveja.
Desta sorte, Doe transpõe seu desígnio para o próprio destino. Acontece uma reconciliação com o destino e com a vida. E aqui cito as pertinentes palavras de Peter Szondi, «pois não é o aniquilamento que é trágico, mas o fato de a salvação tornar-se aniquilamento; não é no declínio do herói que se cumpre a tragicidade, mas no fato de o homem sucumbir no caminho que tomou justamente para fugir da ruína. Essa experiência fundamental do herói, que se confirma a cada um de seus passos, acaba por remeter a uma outra experiência: a de que é apenas no final do caminho para ruína que estão a salvação e a redenção.»[2]
4. Édipo Rei e Seven
A comparação entre a tragédia Édipo Rei e o filme Seven pode parecer anacrônica, mas a faço para exemplificar como o processo de leitura muda as “visões de mundo” (Weltanschauung).
Alguns pontos análogos são: (i) a Cidade(pólis) em conflito, assolada por “contaminação” (mìasma): Édipo Rei inicia-se constatando-se os males que transtornam a todos; em Seven há os pecados que acossam a sociedade. (ii) A relação entre desígnio e destino (liberdade e necessidade): procura por si mesmo, por seu lugar (topos) no mundo, por sua responsabilidade, tentativa de transpor a necessidade pela liberdade – no caso de Édipo, busaca-se driblar o destino, por outro lado, John Doe cria um destino para si. (iii) Sabedoria: transparece de forma central tanto no Édipo Rei quanto no Seven; Édipo é quem examina, indaga, investiga e de maneira trágica descobre a dinâminca da vida, da própria vida; Somerset, Mills e Doe são personagens extremamente sutis, interpretam, colhem dados, investigam, refletem, julgam senão a vivência humana. (iv) Relação Deus(es) e Humanos: a divindade é, manifestamente, almejada pelo ser humano – regra-se a vida ditada pelo paradigma do sagrado. (v) Quem se é e Quem aparenta ser: louco, monstro ou apenas um homem comum (Seven)?; Édipo pensa ser uma pessoa, mas logo saberá que é outra. (vi) Purificação (kàtharsis): é realizada fora da Cidade, Édipo é expulso de Tebas; já Doe exige que seja levado para um local distante da vida social, é ali que será purificado, que cessará a contaminação da cidade. (vii) A violência como forma de purificação: os crimes são os sermões de John Doe; Édipo propõe violentas penalidade ao assassino de Laio, também atenta-se contra o próprio corpo ao ver-se envolvido nos males de si mesmo e do coletivo.
De resto, aqui pude ver uma «estrutura» de realidade duma vida excessiva como a nossa o é.
Fica, então, como sugestão: ler o Édipo Rei de Sófocles e assitir ao filme Seven.
[1] Vide Toledo, Eunice Lopes de Souza. “O entrelaçamento de vozes para compor a tessitura de ‘Seven’, de David Fincher”. Estudos Lingüísticos, XXXIII. 2004, p. 942.
[2] Szondi, Peter. Ensaio sobre o Trágico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. Itálicos meus.
Referências Bibliográficas:
- Kury, Mário da Gama. A Trilogia Tebana. 10ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
- Szondi, Peter. Ensaio sobre o Trágico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
- Toledo, Eunice Lopes de Souza. “O entrelaçamento de vozes para compor a tessitura de ‘Seven’, de David Fincher”. Estudos Lingüísticos, XXXIII. 2004. Disponível em http://www.gel.org.br/4publica-estudos-2004/4publica-estudos2004-pdfs-comunics/o_entrelacamento.pdf. Acesso em: 22/11/2007.
- Vieira, Trajano. Édipo Rei de Sófocles. São Paulo: Perspectiva, 2004.
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
A constante busca da felicidade!
A constante busca da felicidade!
Nós, seres humanos, queremos ser felizes!
Ser feliz não é somente a ausência de dor, mas a presença de inúmeros reforçadores positivos!
È estar bem com o meio em que vive, não só se sentir bem. È ter a possibilidade de escolher o quer da vida não somente o que a vida quer de você. È compreender que a felicidade, como todos os sentimentos ou emoções são conseqüências de nossos atos. Nós sentimos, pois vivemos. Cada contexto nos oferece um sentimento distinto. Dor, alegria, êxtase, medo, raiva. Cada sentimento, vários contextos, várias comportamentos.
Percebi que estar feliz é aceitar e compreender que em cada momento terei uma emoção distinta. E que sofrer faz parte disto. Talvez a pergunta pra quando sofra não seja como ter a felicidade perpétua, mas sim, como lidar com o meu sofrimento.
Para estar feliz, faço que nem aquela poesia do Arnaldo Antunes, mais conhecida como propaganda do Pão de Açúcar:
O QUE FAZ VOCÊ FELIZ?
Comer morango com a mão
Por açucar no abacate
Brincar com melão, goiaba, romã, jaboticaba
Ou é o gostinho de infância que te faz feliz?
Cuspir sementes de melancia
Falar besteira, ficar sem fazer nada
Plantar bananeira
ou comer banana amassada
A lua, a praia, o mar
A rua, a saia, amar...
Um doce, uma dança, um beijo,
Ou é a goiabada com queijo?
Afinal, o que faz você feliz?
Chocolate, paixão, dormir cedo, acordar tarde,
Arroz com feijão, matar a saudade...
O aumento, a casa, o carro que você sempre quis
Ou são os sonhos que te fazem feliz?
Um filme, um dia, uma semana
Um bem, um biquíni, a grama...
Dormir na rede, matar a sede, ler...
Ou viver um romance?
O que faz você feliz?
Um lápis, uma letra, uma conversa boa
Um cafuné, café com leite, rir à toa,
Um pássaro, ser dono do seu nariz...
Ou será um choro que te faz feliz?
A causa, a pausa, o sorvete,
Sentir o vento, esquecer o tempo
O sal, o sol, um som,
O ar, a pessoa ou o lugar?
http://www.youtube.com/watch?v=JoYT8TH_c...
Vejam que o autor discrimina os comportamentos que tem efeito positivamente reforçador em sua vida! E talvez criar novas! Consegue reconhecer os atos que lhe dão prazer ou simplesmente lhe faz bem! Consegue distinguir os ambientes que auxiliam em seu estar e sentir bem!
Estou escrevendo um artigo sobre a constante busca da felicidade e exponho todas estas idéias. A idéia geral é: dar um novo significado à felicidade, mostrar por que não somo felizes todas as horas, e mostrar novas maneira de estar feliz! Quem sabe vira uma obra de auto ajuda???Pois é!
Nós, seres humanos, queremos ser felizes!
Ser feliz não é somente a ausência de dor, mas a presença de inúmeros reforçadores positivos!
È estar bem com o meio em que vive, não só se sentir bem. È ter a possibilidade de escolher o quer da vida não somente o que a vida quer de você. È compreender que a felicidade, como todos os sentimentos ou emoções são conseqüências de nossos atos. Nós sentimos, pois vivemos. Cada contexto nos oferece um sentimento distinto. Dor, alegria, êxtase, medo, raiva. Cada sentimento, vários contextos, várias comportamentos.
Percebi que estar feliz é aceitar e compreender que em cada momento terei uma emoção distinta. E que sofrer faz parte disto. Talvez a pergunta pra quando sofra não seja como ter a felicidade perpétua, mas sim, como lidar com o meu sofrimento.
Para estar feliz, faço que nem aquela poesia do Arnaldo Antunes, mais conhecida como propaganda do Pão de Açúcar:
O QUE FAZ VOCÊ FELIZ?
Comer morango com a mão
Por açucar no abacate
Brincar com melão, goiaba, romã, jaboticaba
Ou é o gostinho de infância que te faz feliz?
Cuspir sementes de melancia
Falar besteira, ficar sem fazer nada
Plantar bananeira
ou comer banana amassada
A lua, a praia, o mar
A rua, a saia, amar...
Um doce, uma dança, um beijo,
Ou é a goiabada com queijo?
Afinal, o que faz você feliz?
Chocolate, paixão, dormir cedo, acordar tarde,
Arroz com feijão, matar a saudade...
O aumento, a casa, o carro que você sempre quis
Ou são os sonhos que te fazem feliz?
Um filme, um dia, uma semana
Um bem, um biquíni, a grama...
Dormir na rede, matar a sede, ler...
Ou viver um romance?
O que faz você feliz?
Um lápis, uma letra, uma conversa boa
Um cafuné, café com leite, rir à toa,
Um pássaro, ser dono do seu nariz...
Ou será um choro que te faz feliz?
A causa, a pausa, o sorvete,
Sentir o vento, esquecer o tempo
O sal, o sol, um som,
O ar, a pessoa ou o lugar?
http://www.youtube.com/watch?v=JoYT8TH_c...
Vejam que o autor discrimina os comportamentos que tem efeito positivamente reforçador em sua vida! E talvez criar novas! Consegue reconhecer os atos que lhe dão prazer ou simplesmente lhe faz bem! Consegue distinguir os ambientes que auxiliam em seu estar e sentir bem!
Estou escrevendo um artigo sobre a constante busca da felicidade e exponho todas estas idéias. A idéia geral é: dar um novo significado à felicidade, mostrar por que não somo felizes todas as horas, e mostrar novas maneira de estar feliz! Quem sabe vira uma obra de auto ajuda???Pois é!
Título e textos
Títulos e resumos de texto que nunca escrevi e que provavelmente não escreverei mas que seriam legais de serem encontrados no blog:
“È fácil ser escroto com quem a gente ama!”
Texto que relata a facilidade de certos indivíduos de serem extremamente grossos com que tem um laço afetivo.Porém quando é com outros se caga todinho!
“ Não to sendo escroto, só sincero!”
Livro de auto ajuda que mostra a sutil diferença entre contar ao outro o que se passa de maneira eufêmica e calma do que gritando e jogando merda no ventilador.
"Punheta, bronha, e masturbação: Método revolucionário de tirar leite de pedra."
Livro de auto ajuda para nos auxiliar a tirar algo de útil em aulas inúteis de psicologia. Diga-se de passagem Introdução a Psicoterapia.
"Se meu filho for viado, minha mulher uma vaca o que sou então?"
Livro que contextualiza o homem em seu meio. Muito útil aos indivíduos que não se tocam.
"Por que coisa inútil me fascina?"
Texto que explica desde a origem do universo até a sujeira da tua unha encravada.Em suma: aborda temas inúteis.
“È fácil ser escroto com quem a gente ama!”
Texto que relata a facilidade de certos indivíduos de serem extremamente grossos com que tem um laço afetivo.Porém quando é com outros se caga todinho!
“ Não to sendo escroto, só sincero!”
Livro de auto ajuda que mostra a sutil diferença entre contar ao outro o que se passa de maneira eufêmica e calma do que gritando e jogando merda no ventilador.
"Punheta, bronha, e masturbação: Método revolucionário de tirar leite de pedra."
Livro de auto ajuda para nos auxiliar a tirar algo de útil em aulas inúteis de psicologia. Diga-se de passagem Introdução a Psicoterapia.
"Se meu filho for viado, minha mulher uma vaca o que sou então?"
Livro que contextualiza o homem em seu meio. Muito útil aos indivíduos que não se tocam.
"Por que coisa inútil me fascina?"
Texto que explica desde a origem do universo até a sujeira da tua unha encravada.Em suma: aborda temas inúteis.
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