Ghorite. Este homem labuta em um condado cujo Senhor, esplendidamente conspícuo erudito, tem por ele uma amizade virtuosa; nas palavras do Conde: “Ghorite, amigo tosco, lôbrego, aórgico – ‘não feito pelo homem’ -, ataraxico a tal ponto que chega a ser jocoso”.
Ao sol crepuscular, Ghorite, sempre vai vêniar aos Deuses; instante perfunctório? Não, pois é de ilibação do ser. É em um campo impoluto e imperturbável, onde presta-se a avocar, e, então, homenagear e dialogar com os Deuses
Ghorite – Ó! Fulcro do meu ser oferto-me ao dialogo.
Não reluziu num átimo, pois o espaço-tempo é eternamente auroral.
Deuses (em uníssono) – Humano efebo oferece-se a catarse castiçamente.
Ghorite – Hoje, ao romper o dia, tive oportunidade susceptível de, ao ver do Conde, arrebatamento, pois o sugeri que decepasse seu ‘coração’, visto que, relatou-me, este causava-lhe demasiado sofrimento, inquietação.
Deuses – Vê-se que tu, cavalheiro, ainda não apreendeste a separar as coisas. Ora, deves entender a proposição do Conde da seguinte maneira: ‘coração’, aqui, não refere-se ao órgão oco, emaranhado de músculos, que não é movido pela vontade, mas, decerto, raciocínio/pensamento; isso, sim, incita-o demasiada inquietação.
Ghorite – Vejo que atribui-se palavras denominativas de ‘coisas’ do mundo, dito sublunar, à ‘entes’, como dizem-me os Senhores, sempiternos, castiços.
Deuses – Não se deve confundir ‘entes’ com ‘coisas’, ou seja, ‘alma’ com o pacóvio ‘corpo’. O ‘corpo’ nada mais é do que, indubitavelmente, um entrave ao ‘saber’; deve-se desvencilhar das pretensas roupagens corporais por intermédio do casto pensar; sendo assim, só se alça à serenidade por constante processo inquisitivo; a ‘alma’ possibilita o ‘saber’.
Ghorite – Minha observação era, ou é, de que o único viés ao ‘saber’ é através dos sentidos sensitivos.
Deuses – Veja, o quê pensas? Será o ‘saber’ uma sensação corporal frugal?
Ghorite – Ora, ‘saber’, deveras, não é apenas um arrumar das idéias. Pois, vejamos bem, quando sinto Amor pela Bela Genoveva, meu corpo todo... (será que continuarei? Sugestões?)
8 comentários:
E Raskólhnikov....Eu ainda tô te devendo a tradução desse texto pro português de gente normal né? Quando Caminha escreveu isso aí, ele tava na puberdade e o maior sonho dele era trepar com a namoradinha no convês na Caravela Pinta.
“Ghorite” é um texto por vir. Nele, a pretensão é de falar sobre, e através dele mesmo, vários assuntos, tipo: ‘comunicabilidade’, frase, entendimento, ‘saber’, conhecer, amar, vida, hábito, relação humana, alma, sexo, violência, abuso, e tantos mais. Os termos utilizados são para provocar o leitor, é possível a comunicação com palavras de pouco uso? E, como entender um texto sem envolver-se na linguagem doutra pessoa? Quem o escreves, bem o sabes, não és um Caminha, mas àquele que vive na tentativa de comunicar-se.
Bom filho de Alá, Morramedyzinho (Morramedynho é bm melhor q Hammurabi: combina mais contigo), faço de tuas minhas palavras. Sugiro q o estimado e malhado Raskólhnikov se dê ao deleite de nos conhecer e perceba o quão importante é ser vc mesmo, e não se esconder atrás de Caminha, Camões, Zé Lins, Dostoievski, Goethe. Enfim, fui claro?
P.S.: Clareza é um aspecto primordial da comunicação.
Lobinho, meu caro. Cê tá pondo "sal na batida de limão", como diria o grande poeta Zeca Pagodinho.
Eu, o "Cardosão" é que sou o Hammurabi. Eu me inspirei num rei babilônico a quem credita-se um dos primeiros códigos de leis da humanidade, o Código de Hammurabi, conhecido popularmente como "olho por olho, dente por dente".
O Russo fala desse jeito, rebuscado, porque ele é um filósofo. E a nossa experiência em filosofia não ajuda muito a gente a entender o que ele diz. Afinal de contas, a gente não passou do banquete homossexual do Platão.
Caro Lobinho,
Recebo de bom grado tuas palavras. Todavia, não consigo me imaginar sendo outra pessoa, tanto mais um Caminha, um Camões, ou um Dostoiévski. Caramba!! Se você quis dizer que escrevo por esses autores, isto é, como eles, então cheguei ao nível dos grandes romancistas mundiais; sinto-me lisonjeado. Quanto à clareza na comunicação, não deixo de dizer-lhe, a relação dialógica é sempre precária; usamos a “linguagem” convencionalmente na tentativa de estabelecer uma comunicabilidade clara, muito embora não seja assim, suponho que saiba disso. As palavras deste texto são da língua portuguesa, comumente usadas ou não, são expressões desta língua. E veja, será o pensamento, todo ele, lingüístico, ou seja, pensar é o mesmo que “desenrolar” linguagem? Considero que não seja deste modo. O ‘pensar’ envolve um processo e um estado que vai além da estruturação de proposições. A comunicação não se dá tão somente pelos termos proposicionais; por exemplo, “revelação” religiosa. Como neste caso você está questionando um texto escrito, peço-lhe obsequiosamente que faça um mínimo de esforço – aliás, exigido para seja lá qual for o tipo de relação comunicativa – para interpretá-lo. Se tiver dúvidas quanto ao texto, podes me perguntar, esclarecerei, na medida do possível, rápida e concisamente.
Nobre Lobinho, conhecendo “vocês” perceberei pessoas que são elas mesmas? Eu não tenho nem sombra de dúvidas neste tocante. Sei quão originais “vocês” são; indivíduos completamente independentes e iguais a si mesmos. Pois muito bem, pobre e infeliz daquele que não vê-se em ‘comum’ com os outros, não influencia e deixa-se influenciar!
O nome Raskólhnikov, como sabes, é de um personagem da obra “Crime e Castigo”, de Dostoiévski. O inacabado texto “Ghorite”, nem de longe têm a pretensão de chegar ao patamar de um Dostoiévski ou de um Goethe.
Com um curso desses vocês chegarão longe. Lêem um diálogo platônico tão rico em “teorias”, como o “Banquete”, e o que percebem não é senão o quê nele não há.
Resumindo o banquete do Platão:
Uma orgia só de machos sem nenhuma fêmea. A única mulher que aparece na parada é a Diotima, quem nem estava presente, senão no discurso do próprio Sócrates. No meio da parada gay da Idade Clássica aparece uma bicha louca armando o maior barraco, por que queria ser a matriz, não a filial, do Filósofo Questionador.
Enfim, não importa se, na festinha ao som de Believe da Cher, eles (elas) conseguiram solucionar os grandes problemas da humanidade como: quem veio primeiro? ovo ou galinha? Onde está o dedo do Lula? Heloísa Helena é ou não é virgem? Ou ainda como chupar manga sem se melecar. O ambiente onde tava rolando a "parada" não era exatamente a Royal Society of London. Tava mais pra um tipo de Motel Sodoma.
Todo ano rola um banquete daqueles a là Platão na Esplanada e na Avenida Paulista. Você, meu caro filósofo, pode participar do banquete do ano que vem e me dizer, a partir dessa experiência empírica, se estou equivocado ou não. O problema é que num banquete desses, só devem servir nabo ou outras "iguarias" de similar anatomia.
Estimado Hammurabi,
É com pesar que recebo esta sugestão, no mínimo macabra. Tenha calma, tenha calma Hammurabi! Não baixe o nível. Acredito que a “Confraria” seja um espaço para o diálogo argumentativo, e mesmo para apresentar tantas outras coisas. De jeito nenhum quis te ofender, se assim te pareceu.
O banquete ao qual se refere não é de meu interesse e o desconheço! Quanto à obra “Banquete”, de Platão, sugiro que a releia sem a perspectiva homossexuálica, no dizer de um velho personagem.
Cordiais saudações!
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