Um Cachorro Bravo escreve:
Nosso vice-presidente, José Alencar, está passando por um procedimento cirúrgico, mais uma vez. Por que seu tratamento não está sendo em algum hospital público do Sistema Único de Saúde? Este é um post de muitas perguntas. Para esta, vejamos se eu consigo responder.
José Alencar está no Hospital Sírio-Libanês, uma referência internacional de atendimentos de média e alta complexidade. Eu sinceramente não conheço o hospital, mas basta saber que, apesar de ser uma instituição filantrópica, ele dispõe de um heliponto, estacionamento com manobrista, "Além do conforto das acomodações oferecidas ao paciente - todas com TV a cabo, frigobar, telefone e som ambiente -, o Hospital Sírio-Libanês também busca adequar seus serviços ao perfil e às necessidades de cada cliente. Por isso, dispõe de opções de quartos com varanda e ante-sala, o que garante mais privacidade para visitas. Os apartamentos do Hospital Sírio-Libanês também possuem acesso à Internet banda larga" (
retirado do site do hospital).
Este post é de longe o mais triste e longo que já escrevi. Mas como ficar calado ou se conformar diante de um absurdo deste?! O absurdo que me refiro, e que vocês já devem estar compartilhando, não é quanto à infraestrutura do hospital, mas sim com a cara de pau dos nossos governantes - e governo!
Nas obras de Monteiro Lobato percebemos sua eloquente literalidade para a fábula, tratando dos temas da vida de maneira lúdica, tudo para que as crianças não percam o que elas tem de mais precioso: a imaginação. Acho que nossos legisladores tiveram uma infância muito plena. Querem ver? Me digam, o Sítio do Pica-pau Amarelo é muito diferente da Constituição de 1988? Vejamos! Em seu Art. 196 temos o seguinte: "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação". Só faltou o pó de pirimpimpim. Mais a frente, no Art. 199, a redação que temos é esta "A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. (Parágrafo 1º) - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos". Justifica-se portanto o atendimento de nosso vice-presidente no Sírio-Libanês.
Já estou terminando meu grito de indignação. Relaxem!
Contudo, o quê não justifica? Pois eu digo. Na última segunda-feira o motorista do ônibus que tombou no viaduto próximo ao Aeroporto JK na semana passada, morreu a caminho do Prontonorte, um hospital privado com fins lucrativos, em busca de uma UTI, isso por que sua família teve de recorrer ao Ministério Público para "garantir direito de todos e dever do Estado" já que pelo SUS não havia nenhum leito disponível. Será que o José Alencar tentou ir ao Hospital de Base antes de recorrer ao Ministério Público? É, acho que não.
Este o nosso país, que um dia teve os cara-pintadas para tirar o Collor (autor de grandes feitos absurdos, dentre eles a CPMF que era para ser destinada ao SUS. Alguém lembra da CPMF? É provável que ela volte sob o mesmo pretexto neste tempo de "crise") e hoje ele é Senador pelo estado de Alagoas. Explica essa Freud?!
Bem que poderiamos ter hoje os blogs-pintados.
E agora? Só me resta voltar à pergunta do título.
EstadãoCorreio BrasilienseP.S.: Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde:
ProntronorteSírio-Libanês